sábado, 25 de junho de 2011

SOPA COM O GARFO


O ser humano converteu-se num especialista em complicar as coisas e em complicar a sua própria vida e relações. Procuramos problemas, inventamo-los e, se já existem, procuramos torná-los ainda mais intrincados. Podendo fazer tudo de forma complicada, porquê tentar fazê-lo de forma mais simples? Não nos aceitamos a nós próprios, comparamo-nos com os outros, competimos com todos. Sofremos mais com a perda de um ser querido do que, em comparação, desfrutamos com a sua presença. Se nos falta saúde, lamentamos não tê-la valorizado quando a tínhamos. Fabricamos labirintos para nos perdermos. Se o Pedro se enamora da Maria, é provável que esta se enamore do João. Complicamos tudo. Tentamos despir a camisa antes de tirar a camisola. Destacamos o negativo. Por exemplo, se podemos viajar de avião (conquista quase incrível), o que mais nos afecta é a distância de casa ao aeroporto.

José María Cabodevilla escreveu um livro muito bonito (mais um e superam já a vintena) sobre a incrível arte que praticam os humanos de complicar as coisas. O título do livro, que encabeça estas linhas, é um bom exemplo deste processo. Ninguém pode negar que comer a sopa com um garfo é ter vontade de o fazer difícil, de demorar muito e de não desfrutar da sopa. O subtítulo do livro é uma síntese perfeita: tratado das complicações humanas.

O ser humano, diz Cabodevilla, é complicado na forma como pensa, como ama e como sofre. De facto, os humanos gostam de percorrer o caminho mais longo e mais tortuoso, organizar corridas de obstáculos e aproximar o piano do banco em vez de chegar este ao piano

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