terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Trabalho e Sofrimento dos Professores


Trabalho e Sofrimento, segundo Freud


Vamos analisar a perspectiva de Freud sobre o trabalho. Freud não escreveu textos especialmente dedicados ao trabalho, mas não deixou de reconhecer a centralidade do investimento da libido humana nesta área. Perguntado uma vez sobre o que seria central na vida do ser humano, não hesitou em, responder: “amar e trabalhar”.A título de ilustração, escolhemos dois conceitos de Freud que exemplificam o que acabamos de dizer.
A sublimação, estudada por Freud como um mecanismo de defesa, consiste no fato de actividades humanas que não possuem qualquer relação aparente com a sexualidade (e aqui se pode incluir a criação artística, a investigação científica e o próprio trabalho), terem as pulsões sexuais e agressivas como sua força motriz.
Trata-se de uma derivação ou desvio da libido para um alvo não sexual, ou que expressa objectivos socialmente valorizados.
Em “O Futuro de uma Ilusão” Freud (1927/1997) considera que todo indivíduo é virtualmente inimigo da civilização, embora acredite que esta é de interesse humano universal, por isso afirma que o homem não é espontaneamente amante do trabalho. Enuncia um conceito de civilização que abrange tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de sua condição animal e difere da vida dos animais.
Assim, a civilização inclui todo o conhecimento e capacidade que o homem adquiriu com o fim de controlar as forças da natureza e extrair a riqueza desta para a satisfação das próprias necessidades e inclui tudo que é necessário para ajustar as relações dos homens uns com os outros e, especialmente, a distribuição da riqueza disponível.
Em outra obra – “Mal-estar na Civilização” (1930/1997) Freud afirma que nós, homens civilizados, trocamos nossas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança. A vida, segundo o autor, proporciona ao homem muitos sofrimentos, decepções, tarefas impossíveis de serem realizadas. Aspectos sócio-culturais, como o trabalho, são renúncias pulsionais colectivas em prol da sociedade, constituem uma medida paliativa na função de evitar do sofrimento (desprazer), fazem parte da sujeição ao princípio da realidade.
O sofrimento ameaça o homem em três direcções: o próprio corpo, fadado à decadência; o mundo externo, que pode voltar-se contra ele com forças de destruição e; o relacionamento com os outros, colocado como talvez sendo a fonte do sofrimento mais penoso. A defesa imediata contra este sofrimento seria o isolamento, porém que o melhor caminho é o de tornarmo-nos membros da comunidade humana.
Assim sendo, a relação entre o trabalhador e a organização do trabalho ocorre não apenas no plano consciente, mas em uma dimensão imaginária. Trata-se, segundo Freud, de uma relação que envolve “dor”, no sentido da ferida narcísica que provoca. Consequentemente, a demonstração de excessivo zelo pelo trabalho, assim como a necessidade de referências de gratidão e elogios, por parte dos alunos, podem significar tentativas de minimizar as duras condições de trabalho do magistério.
Em obra bastante conhecida, em que estuda um caso clínico de paranóia – o Caso “Schreber” (1910/1981) - Freud fala de um tipo especial de transferência, que o ser humano desenvolve em relação às instituições com as quais tem algum vínculo. Isto faz com que se relacione com elas, de forma antropomorfizada, atribuindo-lhes sentimentos, qualidades humanas, quase vida própria.
O mesmo acontece com os professores, em relação à escola: falam dela como se fosse a “segunda casa”, “um verdadeiro lar”, e estabelecem com os companheiros de trabalho e com os alunos relações fraternas e “quase parentais”, naturalmente permeadas por ambivalências de amor e ódio e por outros sentimentos e fantasias, presentes no relacionamento familiar. Trata-se de uma “faca de dois gumes”: da mesma forma que tais relações podem amenizar as agruras das condições de trabalho, geradoras do mal-estar docente, podem agravá-lo, com uma maximização de sentimentos de dor e de culpa, por exemplo.
Freud apresenta, em outro texto, o excesso de trabalho como uma das causas do enfraquecimento da intensidade da pulsão e do próprio Ego. Destaca, no mesmo texto, a tendência, nesse caso, a buscar satisfações substitutivas por outros meios. Esta tentativa, no entanto, não é bem sucedida. O autor critica a Psicanálise, por ter atribuído, a tais factores, pouca importância no desencadeamento da doença psíquica.
“Aqui temos uma justificativa da pretendida importância etiológica de factores não específicos, como o excesso de trabalho, os choques (emocionais) etc. A esses factores tem-se concedido aceitação geral, mas têm sido deixados em segundo plano pela Psicanálise. É impossível definir a saúde, excepto em termos metapsicológicos, quer dizer, pela referência às relações dinâmicas entre os factores do aparelho psíquico que têm sido reconhecidos – ou (se preferem) deduzidos ou conjecturados.” (Freud, 1937/1981a: 3346).

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Conflito-Cooperação

Conflito e Negociação de Pedro Cunha, publicado pela Asa
Uma óptima leitura nos tempos que correm.
Uma breve nota do prefácio à 1ª edição da autoria de Gonzalo Serrano - catedrático da Universidade de Santiago de Compostela:

"Entender pois o conflito como uma realidade presente e necessária não deve fazer-nos cair, na nossa opinião, em dois erros. O primeiro seria pensar que 'todo o conflito é necessário'; infelizmente, muitos conflitos são bastante inúteis na sua génese, delineamento e desenvolvimento, obedecem a razões espúrias e dificilmente se pode perspectivar neles a semente da mudança positiva ou construtiva para a realidade visada. O conflito em si, enquanto realidade social, é necessário, mas nem todos os conflitos têm que o ser.
Outro erro decorreria de uma concepção ingénua do conflito, assentando esta em esquecer que os conflitos produzem confronto, sofrimento e um sem fim de consequências negativas que estão na experiência comum dos indivíduos, das organizações e das nações.
Por tudo isto torna-se relevante fazer outras duas recomendações. Em primeiro lugar, prever o conflito, reconhecer as suas características de conflito latente e abordar aqueles problemas dos quais o conflito é um sintoma. Em segundo lugar, evitar a escalada do conflito que, no fundo, torna muito difícil a resolução do mesmo. "

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Valor da Resiliência


RESILIÊNCIA

Vou deter-me neste ponto, pois há quem pense estar condenado a ser desgraçado por toda a vida por lhe ter sucedido uma desgraça qualquer (maus tratos, violência, humilhação) na infância. Não é necessário ser muito sagaz para verificar que há muitos meninos no mundo (e muitas meninas, sobretudo muitas meninas) que suportam uma infância atroz. Vítimas da guerra, vítimas de maus tratos, vítimas de vexames, vítimas de abandono, vítimas da falta de amor... Umas crianças, de forma visivelmente aterradora. Outras, de forma camuflada, porém não menos cruel. Terão elas a sua vida destruída? Estarão marcadas para sempre? Não. Há que pôr fim ao fatalismo, ao determinismo, às crenças que engendram destinos sem regresso.
Boris Cyrulnik (2002) utiliza, como subtítulo da sua obra “Os Patinhos Feios”, uma frase que resume a sua tese de base: “A resiliência: uma infância infeliz não determina toda uma vida”. A resiliência é “uma propriedade que define a resistência de um material ao choque”. O autor utiliza o conceito como sinónimo de “resistência ao sofrimento”. Chama a atenção, tanto para a capacidade de resistir aos embates de natureza psicológica, como para o impulso de reparação psíquica que nasce desta resistência.
O autor desta obra tinha apenas seis anos quando conseguiu escapar de um campo de concentração, donde nunca regressaram os restantes membros da sua família constituída por judeus russos emigrantes. Sabe, portanto, muito bem do que está a falar. Sabe (por o ter aprendido no infindável livro da vida) o que é a resiliência. Neurologista e psiquiatra, este professor da Universidade de Var (França) é um dos fundadores da etologia humana e autor de numerosos livros.
A obra “Os Patinhos Feios” transmite uma mensagem de esperança a todas as crianças vítimas de maus tratos, da guerra, da miséria existente no seu meio envolvente. O autor defende que uma criança magoada não tem, necessariamente, de se tornar um adulto fracassado. Este livro é um grito contra o fatalismo, as sentenças definitivas, o carácter irremediável dos traumas. Cyrulnik diz-nos que não existem feridas incuráveis.
Há meninos que foram maltratados, violados, torturados. Há meninas que foram alvo de vexames, que foram brutalmente agredidas pelos próprios pais, pelos familiares, pelos amigos. É triste. É terrível. Muitas destas crianças arrastam consigo esta crença maldita: “a minha vida ficou marcada para sempre. Para mim já não há remédio. Os maus tratos terminaram, mas a sua recordação não acaba nunca”. Mas nem tudo está perdido. Há que insistir na possibilidade de as pessoas se recuperarem e viverem felizes.
Para que se produza um trauma há que ferir duas vezes. Uma vez com os factos, e outra com uma recordação torturante. A tortura não termina com o fim dos maus tratos. A vergonha de terem sido vítimas, o sentirem-se menos que os outros, a suspeita de que os outros não passaram por nada semelhante, o medo de que, a partir de agora, já nada poderá ser “normal”, não deixam de perseguir aqueles que sofreram maus tratos. A dor e a vergonha ficam sepultadas no silêncio.
Há meninas violadas pelos pais que engoliram o seu sofrimento, mantiveram as suas feridas abertas e a sangrar. Ameaçadas pelo medo ou pela humilhação, acabaram por se calar. E, inclusivamente, ao porem as suas mães ao corrente da desgraça que lhes estava a acontecer, obtiveram como resposta um convite ao silêncio, ou uma atitude infame de culpabilização: “Se calhar a culpa foi tua”. “Não gritaste”. “Não resististe o suficiente”. Ou, o que ainda é pior, sentiram-se forçadas a perpetuar uma cadeia de humilhações: “eu também passei pelo mesmo e calei-me”. “Para as mulheres a vida é assim”. “É a lei da vida”. “Há que engolir e calar”.
A evolução dos síndromas traumáticos varia: quadros agudos, negações que reaparecem anos mais tarde, quadros crónicos que estruturam a personalidade, identificação com o agressor, personalidade amoral, frigidez afectiva, culpabilidade torturante, desconfiança constante, psicologia do sobrevivente... São quadros incontestáveis. Mas é, também, incontestável a capacidade de superação. Ninguém tem um estigma indelével gravado na alma. Ninguém pode afirmar com propriedade: “eu cá já estou morto”.Como ajudar as pessoas a exercitar a resiliência? Há que chegar à convicção de que é possível sair do estado em que estamos, e que as nossas feridas podem ser perfeitamente sanadas. Uma ferida não constitui um destino irreversível. Há que caminhar na direcção certa. Para acabar com os maus tratos não basta interromper a tortura, mas é também necessário superar os seus efeitos devastadores. Para isso, é necessário recuperar a confiança em si mesmo e partir ao encontro dos outros. Com certeza que não é fácil. Mas é possível. Existem pessoas e associações que se dedicam a esta bela e extraordinária tarefa de curar, de salvar física e psicologicamente, de fazer com que as pessoas renasçam moralmente. Há pessoas e organizações que dedicam a sua vida a estender uma mão aos que jazem no fosso profundo da dor e da humilhação. Vão até eles a fim de os fazer viver “a possibilidade de dar e receber, de cuidar e ser cuidado”.
Para curar uma má relação é preciso intervir nos dois pólos que a constituem. Se se proporcionar à vítima um clima afectivo, esta poderá reagir mais facilmente. Entre muitas outras histórias, Cyrulnik conta-nos o que aconteceu com Pero. Esta criança tinha dez anos. Nunca tinha ido à escola. De facto, já não havia nenhuma escola nos arredores de Zagreb. A sua família tinha desaparecido. Sobrevivia há três anos numas barracas onde, de vez em quando, lhe iam deixar alguma comida. Para não sofrer demasiado com o desmoronamento humano que o rodeava, esforçava-se por atingir o estado de indiferença. Certo dia, uma professora reuniu algumas crianças e, ao pô-las a estudar, ficou espantada com as qualidades intelectuais de Pero. Confiou-o a uma família de acolhimento que o enviou para a escola. O distanciamento tornou-se para esta criança uma necessidade de adaptação. Bastava-lhe silenciar o seu passado para parecer um menino como os outros. Chamavam-lhe o “belo tenebroso”, pois permanecia silencioso sempre que à sua volta se falava da família ou da vida íntima. E contudo, era alegre e jogava bem futebol. Rapidamente se tornou o primeiro aluno da turma...
O conceito de resiliência abrange os conceitos de elasticidade, dinamismo, recurso e bom humor. A atitude tem a ver com cada pessoa, com a sua forma de ser e reagir. E também com a cultura e o clima moral em que as pessoas se movimentam e respiram. Uma sociedade psicologicamente saudável transmite, por osmose, à pessoas vontade de viver. Paul Claudel, ao assistir ao colapso económico de 1929 nos Estados Unidos, descreve “a angústia que oprimia os corações e a confiança que iluminava os rostos”. Esta atitude mental face à tragédia marcou de tal forma a imagem do mundo que “se alguns homens de finanças chegaram a atirar-se das janelas, não posso deixar de crer que o fizeram na falaz esperança de fazerem ricochete”.
Há que terminar com a tortura, com os maus tratos, com as agressões que provocam dor às vítimas, que aviltam os responsáveis pelos maus tratos e que espalham o terror entre as testemunhas. Mas, no caso de tudo isto ter já acontecido, não nos podemos deixar vencer pelo desespero. As feridas podem ser curadas. Felizmente, as repercussões psicológicas não são irreparáveis. Ninguém está condenado para sempre.
A educação sentimental não consiste, pois, na inclusão duma nova “disciplina” no currículo. Trata-se de fazer com que uma das prioridades da escola seja o desenvolvimento emocional e a aprendizagem da convivência. Uma prioridade sentida por todos, assumida por todos e com a qual todo se sintam comprometidos.
Miguel Santos Guerra

domingo, 21 de setembro de 2008

Perguntas para a Psicologia


Quem somos nós? O que somos? Qual a nossa origem? Como funcionamos? Como se explicam os nossos comportamentos, que nem sempre mostram ser os mais adequados? Porque temos determinadas reacções psicofisiológicas? Como se explicam as variações no nosso sentido de humor? Se temos uma individualidade própria, porque nos parecemos com os nossos ascendentes? Porque nos relacionamos tão bem com algumas pessoas e temos dificuldades com outras, em o fazer? Se amamos os nossos familiares, porque entramos em conflito com eles? Qual a razão de ser dos nossos preconceitos? Porque é que algumas pessoas não compreendem noções teóricas e se saem tão bem a resolver problemas práticos? O que é a nossa inteligência? Em que medida é que o pensamento se deixa afectar por emoções fortes? Pensamento e emoção serão realidades opostas, ou o pensamento comportará forte componente emocional? O que determina as nossas escolhas? A personalidade será estável, ou será uma estrutura afectada por mudanças ligadas ao tempo e às circunstâncias?

Ao longo do nosso curso de Psicologia B vamos procurar encontrar respostas para todas estas interrogações, ou pelo menos algumas delas e outras que nos inquietam.

"Freud salvou-me", recorda a última paciente viva do pai da Psicanálise

Aos 88 anos, a escultora vienense Margarethe Walter tem ainda intacta a memória do homem que lhe "salvou a vida", em 1936. Na altura ela tinha 18 anos, sofria de bronquite e, sobretudo, de um "grande mal da alma". O médico decidiu mandá- -la então ao especialista mais famoso - e polémico - da época, que tinha o consultório no 19 da Rua Berggasse, em Viena. O especialista chamava-se Sigmund Freud, e "curou-a" em 45 minutos.
Margarethe é a última paciente ainda viva do "pai da psicanálise" e acedeu agora pela primeira vez a contar publicamente a sua história ao semanário alemão Die Zeit, que a procurou e entrevistou. Uma forma original de comemorar os 150 anos do nascimento de Freud.
"Sigmund Freud foi a única pessoa que verdadeiramente me escutou", garante a escultora, que vivia subjugada por um pai autoritário. "Freud é a chave da minha vida. (...) Abriu em mim uma porta que ninguém tinha querido abrir antes", conta Margarethe ao Die Zeit, sublinhando ter "saboreado tudo" o que Freud lhe transmitiu. " Essa fonte de alimentação da alma nunca se esgotou em 70 anos. Salvou-me a vida."
Nesse ano de 1936 do século passado, Freud estava já na recta final da sua vida. Morreria três anos depois, já no exílio, em Londres, logo após o início da II Guerra Mundial.
Para trás ficava uma vida de trabalho original sobre a mente humana, que o médico de Viena foi sempre reelaborando e transformando, e que acabou por revolucionar a história do pensamento, repercutindo-se até hoje nas ciências, nas artes e na cultura.
Da linguagem comum à literatura, das manifestações artísticas às correntes filosóficas, os conceitos psicanalíticos são hoje indissociáveis da cultura ocidental, ainda que muitos dos seus agentes o rejeitem com fúria, ou o senso comum lhes deturpe o significado, ao sabor dos pequenos conflitos quotidianos.
Mas, nesse ano distante de 1936, Margarethe Walter ainda não podia saber nada disto. Sabia, isso sim, que se sentia só, "muito oprimida, fechada e certamente não amada". Vivia então com o pai, "muito autoritário", de quem era "completamente dependente".
O seu encontro com Freud, embora curto, foi libertador. Margerethe recorda "um homem muito velho, mas cheio de força". Tinha "uma pequena barba branca, um fato cinzento e estava um pouco curvado".
O relato da escultora prossegue, sempre vívido. "Olhou-me de frente nos olhos, profundamente." Depois encorajou-a a desligar-se do pai, que a acompanhava nessa consulta, e a quem ele próprio pediu na ocasião para "sair da sala". Freud disse então as palavras mágicas, segundo a sua última paciente viva: "Para se chegar a adulto é preciso atender aos desejos, alimentar a contradição, colocar a questão do 'porquê', não aceitar tudo em silêncio". A julgar pela memória que guarda desse encontro decisivo, Margarethe deve ter seguido o conselho. Mas não conta como o fez.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Estudos laboratoriais das emoções e sorrisos

Laboratório de Expressão Facial e Emoções

A Universidade Fernando Pessoa, no Porto, investiga emoções e sorrisos, produzindo estudos absolutamente inéditos. Assim, para o director do Laboratório de Expressão Facial e Emoções, Prof. Freitas Magalhães, basta olhar para o espelho ou para as pessoas com quem se cruza para obter material de trabalho. Este psicólogo dedica-se ao estudo científico das expressões faciais, área que começou a ser investigada por Darwin, no século XIX, mas que, em Portugal, tem neste Laboratório o único centro de estudos.
Neste Laboratório são dissecadas as emoções e estudada a micro-expressão a nível da expressão facial, ou seja, é verificado o movimento esquelético-muscular das emoções básicas e de toda e qualquer emoção. O seu director passa dias observando o rosto humano, uma aventura fascinante. Analisa os sorrisos e outras expressões faciais através de matrizes científicas que permitem medir a intensidade do sorriso e também detectar se são verdadeiros ou forçados.
A análise aos sorrisos é feita tendo em conta todo o rosto e não apenas a boca. “O estudo da estrutura dos sorriso já está praticamente feito. Sabemos quais são os movimentos esquelético-musculares necessário para fazer sorrir”, diz o prof. Freitas Magalhães. Nesta área, as maiores dúvidas dizem respeito ao porquê, como, quando e onde surgem os sorrisos. Os estudos já realizados permitem concluir que “as mulheres riem mais do que os homens. Identificam mais, melhor e com mais rapidez as emoções básicas. Sorriem mais em tensão do que em descontracção, porque têm a ideia que têm de ser sempre mais agradáveis”, diz o director do Laboratório de Expressão Facial e Emoções. Está também provado que as pessoas sorriem mais na idade reprodutiva, o que pode estar relacionado com o sorriso ser um mecanismo fundamental na atracção amorosa. “O sorriso é um mediador de tensões. Acaba por ser uma curva que tudo pode endireitar” considera este psicólogo.
Este especialista em emoções e expressões faciais revela também que a felicidade é um conceito cientificamente mensurável através de alguns instrumentos. “A felicidade é uma equação com muitas variáveis. Depende do contexto social, das pessoas, do sítio onde estão”. Na sua opinião, “a felicidade, mais do que uma realização prática, acaba por ser uma realização de uma ideia” e passa pelo alcançar de objectivos traçados. Por isso também é possível, ao olhar para várias fotografias, dizer quem está mais feliz.
Os instrumentos científicos pretendem também detectar a mentira: “o músculo palpebrar interior é dos poucos que exercitamos involuntariamente; por exemplo, quando estamos a mentir ou a omitir parte da verdade ele contrai-se involuntariamente”, revela o prof. Freitas Magalhães. (Artigo elaborado a partir de uma entrevista publicada em Metro de 21 de Janeiro de 2008).

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Tópicos de Resposta Projecto 1 - Eu nos Contextos

Projecto 1 (Objectivo 1)
1. O que é o modelo ecológico de desenvolvimento?
2. Define contexto.
3. Em que diferentes contextos vivem os indivíduos?
4. Como se caracteriza:
a. Microssistema;
b. Mesossistema;
c. Exossistema;
d. Macrossistema;
e. Cronossistema.
5. Como se posicionam os indivíduos em cada um deles?

1. O que é o modelo ecológico de desenvolvimento?
→ Estudo científico da acomodação progressiva, mútua entre um ser humano activo, em desenvolvimento, e as propriedades mutantes dos ambientes imediatos em que a pessoa em desenvolvimento vive, conforme esse processo é afectado pelas reacções entre esses ambientes, e pelos contextos mais amplos em que esses ambientes estão inseridos (Bronfenbrenner, 1996, psicólogo russo)
→ modelo que encara o desenvolvimento humano como um processo que decorre ao longo de toda a vida a partir de interacções entre os indivíduos e os seus contextos de vida.
→ modelo em que os padrões comportamentais são estudados no meio natural da vida quotidiana dos indivíduos em cujo campo psicológico se inclui os objectos, os acontecimentos, os símbolos e as significações com os quais o sujeito interage; tenta-se assim dar uma noção integrada do sujeito (influência de Kurt Lewin com a noção de grupo como realidade social);
→ permite dar uma mais abrangente dos vários factores, pessoais ou do contexto, que influenciam a trajectória desenvolvimental de um individuo;
→ estudo científico dos ambientes, contextos saudáveis e naturais com os quais o indivíduo interage enquanto processo diferenciado;
→ distingue-se das concepções desenvolvimentais que representam o desenvolvimento como uma sucessão de etapas pré-existentes à vivência.

2. Define contexto
→ Meio situacional em que a pessoa ou organismo vive, ou ao qual está ligado e que de um modo mais ou menos directo influenciam a nossa vida;
→ contextos implicam o indivíduo e sistemas dinâmicos, modificáveis e em constante desenvolvimento;
→ meio ambiente em que o indivíduo está inserido e onde se desenrolam processos desenvolvimentais;
→ ex: família, escola, grupo de amigos sociedade recreativa, município, local de trabalho, país, continente, século…
→ pode falar-se em contextos mais imediatos, nos quais a pessoa em desenvolvimento vive, como nos mais remotos, em que a pessoa nunca esteve, mas que se relacionam e têm o poder de influenciar o curso do desenvolvimento humano

3. Em que diferentes contextos vivem os indivíduos?
→ microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema.

4. a) Microssistema
→ um padrão de actividades , papéis e relações interpessoais vivenciados pelo indivíduo num determinado ambiente peculiar de grande proximidade, em que os indivíduos participam directamente e em continuidade;
→ contextos imediatos, de grande proximidade
→ (Ex.: contextos onde as pessoas estabelecem relações face a face, como a família, a escola, o infantário, o grupo de colegas, amigos)

b) Mesossistema
→ relação que se estabelece entre componentes do microssistema, isto é, as interacções e os processos que ocorrem entre dois ou mais contextos do microssistema; (as relações que se estabelecem entre a escola e a família, por ex., fazem parte do mesossistema
→ inclui as inter-relações entre dois ou mais ambientes nos quais o indivíduo participa activamente: família, escola, vizinhança…
→ sistema de ligação entre contextos do microssistema (relações mútuas entre contextos imediatos dão-se ao nível do mesossitema…);
→ um sistema de microssistemas (por ex.:para uma criança de 10 anos, o mesossitema envolve as interacções entre a família, a escola e o grupo de amigos).

c) Exossistema
→ sistema de ligação entre contextos em que o indivíduo participa directamente apenas num deles (por ex.: a relação entre a tua família e o local de trabalho dos teus pais, i.é, participas directamente na tua família e não participas no local de trabalho dos teus pais, mas o que lá acontece influencia o teu desenvolvimento)
→ refere-se aos ambientes que não envolvem directamente a pessoa mas que a afecta indirectamente: o trabalho dos pais, o jardim de infância no qual o irmão está inserido, os amigos dos pais

d) Macrossistema
→ contexto englobante, i. é, o sistema mais alargado em termos dos contextos de vida de qualquer individuo;
→ “refere-se a consistências, na forma e conteúdo de sistemas de ordem inferior (micro, meso, exo) que existem, ou poderiam existir, ao nível da subcultura como um todo, juntamente com qualquer sistema de crença ou ideologia subjacente a essas consistências” (Bronfenbrenner, 1996);
→protótipos gerais, existentes na cultura ou subcultura, que afectam ou determinam o complexo de estruturas ou actividades ocorrentes nos níveis mais concretos;
→ relaciona-se com o sistema de valores crenças, maneiras de ser ou de fazer, estilos de vida de uma determinada sociedade, cultura ou subcultura veiculados ao nível dos subsistemas (exo, meso, microssistema).

d) cronossistema
→ incorporação no contexto de vida de uma dimensão temporal;
→ entendido como o desenvolvimento no sentido histórico, i.é, como como ocorrem as mudanças nos eventos no decorrer dos tempos, devido às pressões sofridas pela pessoa em desenvolvimento (por ex.: a diferença na maneira dos pais criarem os seus filhos, na década de 40 e na década de 80, ou na actualidade).

5.
→ influência da perspectiva fenomenológica no estudo do comportamento em desenvolvimento. O que se torna importante é a realidade, não como ela existe objectivamente, mas como ela é percebida pelo sujeitos. Um indivíduo não reage a um estímulo, mas à interpretação que faz do estímulo. Dá-se aqui maior importância aos conhecimentos e à iniciativa dos sujeitos e às forças ambientais actuantes que emanam da intercepção dos diversos contextos