quarta-feira, 8 de junho de 2011
FLUXO E PERSONALIDADE AUTOTÉLICA
Fluxo e Fluir
Fluir levanta um paradoxo neural, porque traduz uma estranha forma de gasto de energia: independente do alto nível de exigência do trabalho, o cérebro funciona com um nível mínimo de actividade e de consumo de energia (Goleman, 1999: 114, 115). No fluxo «o cérebro é preciso no seu padrão de activação (...) com efeito frenador sobre a excitação cortical», com efeito curioso ao nível da realização pessoal: quanto mais se trabalha... menor parece ser o cansaço, e maior parece ser a energia. Nestas situações emerge um sentimento de regozijo, um profundo sentimento de alegria ou felicidade... límpida, pura e simples, o que parece converter-se para o sujeito, num referencial de auto-conceito e auto-realização pessoal, na perspectiva do ideal de felicidade ou bem-estar pleno, numa paz sentida como um encontro consigo mesmo.(196)
Este conjunto de respostas ao trabalho, remetem para o «tipo de personalidade autotélica» (Csikszentmihalyi, 2004: 311), que por oposição à exotélica, deveria ser ensinada, para que o sentimento de fluxo se pudesse replicar. As actividades autotélicas têm o fim em si mesmas, o prazer está no seu próprio envolvimento, e não para obter algum benefício, ou agradar. A maioria das coisas que se fazem na vida, são um misto de autotélicas/exotélicas, tendo em conta os contextos que a própria vida impõe.
É aqui que pode levantar-se a questão: como é que alguém consegue converter as actividades puramente exotélicas de uma profissão, em actividades de natureza autotélica, em que se vêem progressiva e profundamente envolvidas?
Ou seja, como se passa do sentido de «Fazer o que se quer versus querer (amar) o que se faz»? A essência parece apontar para o sentimento de prazer que alguém experimenta ao fazer algo: este não depende tão só do que (acção) se faz mas também de como (processo, percurso) se faz.
Investigações no campo da fisiologia induzem a pensar que as pessoas capazes de sentir fluxo mais frequentemente, têm a habilidade de reduzir a actividade mental em todos os canais de informação à excepção daquele em que estão conectados, e concentram toda a sua energia psíquica nessa acção, capacidade que segundo Csikszentmihalyi (2004), não tem que ser necessariamente herdada, e bem pelo contrário, pode ser aprendida.
O fluxo, segundo este autor, leva as pessoas a desenvolverem o percurso de vida a um outro nível: ao da criatividade e ao da motivação intrínseca, que são fenómenos emocionalmente inteligentes, já que conduzem a pessoa a envolver-se espontaneamente num processo de Aprender ao longo de toda a vida. (197)
Extractos da tese de doutoramento
Veiga Branco, M. A. R. (2005). Competência emocional em professores. Um estudo em discursos do campo educativo. Tese de doutoramento inédita, Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
Maria Augusta Romão Veiga Branco, U. Porto, 2005
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