domingo, 19 de junho de 2011
Problemas da escola hoje e formação de professores
A escola de hoje, ao abranger toda a população escolarizável, está envolvida em todo um conjunto de problemas e dificuldades, com os quais os professores (e a comunidade educativa em geral) têm de lidar.
Eis algumas situações exemplificativas destes problemas e dificuldades: (i) violência escolar/ bullying (Raum, 2009), isto é, um tipo de comportamento agressivo e negativo, executado repetidamente, que ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas; (ii) indisciplina em contexto escolar (Caeiro e Delgado, 2005; Amado e Freire, 2009, Picado, 2009), um comportamento desviante em relação a uma norma explícita ou implícita sancionada em termos escolares e sociais; (iii) abandono escolar (Canavarro, 2007), atitude relacionada com o deixar o sistema escolar em idade de frequência obrigatória do mesmo, sem obtenção da certificação devida; (iv) insucesso escolar, (Fonseca, 1999) caracterizado pela incapacidade de uma criança/adolescente/jovem corresponder aos objectivos da escola em termos escolares, sendo que uma das manifestações é exactamente o abandono escolar; outros desafios se apresentam ainda, como o alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos, a qualidade das aprendizagens dos alunos, a diferenciação pedagógica, a gestão escolar, problemas de inclusão/exclusão, entre outros.
As situações enumeradas fazem com que se fale hoje, com muita frequência, em “crise da educação”, mas, esta crise pode ser aqui encarada como uma oportunidade de crescimento. Para que tal possa acontecer será necessário (re)pensar o processo de construção da identidade profissional docente e respectiva formação. Esta identidade é construída e vivida no contexto das escolas como organizações, tornando indissociáveis as dimensões pessoais e colectivas do seu exercício. As relações colegiais e colaborativas entre os membros do corpo docente nas escolas são largamente reconhecidas como um factor determinante e muito forte para o desenvolvimento da escola, para a implementação bem sucedida das inovações e para a satisfação profissional (Kelchtermans, 2009). Neste sentido, García (1999) aposta no “desenvolvimento profissional dos professores”, enquanto abordagem na formação de professores que valoriza o carácter pessoal e contextual, organizacional e orientado para a mudança. Esta abordagem pressupõe a ultrapassagem do carácter tradicionalmente individualista das actividades dos professores. Assim, o desenvolvimento do professor não ocorre no vazio, mas inserido num contexto mais vasto de desenvolvimento organizacional e curricular.
Deixamos aqui elencados os modelos de desenvolvimento profissional dos professores apresentados por este autor (Garcia, 1999):
a) Desenvolvimento profissional autónomo, no qual os professores decidem aprender por si mesmos, de acordo com as necessidades sentidas, dirigindo os seus próprios processos de aprendizagem e de (auto)formação, aliás, em consonância os princípios de aprendizagem dos adultos. Exemplos deste tipo de formação podem ser cursos à distância de aprofundamento de leituras, ou cursos de especialização não directamente destinados a formar docentes…cursos de verão, cursos de especialidade, doutoramentos, seminários permanentes…
b) Desenvolvimento profissional baseado na reflexão, no apoio mútuo e na supervisão, segundo o qual a reflexão é tida como estratégia para o desenvolvimento pessoal, promovendo competências metacognitivas que permitam ao professor conhecer, analisar, avaliar e questionar a sua própria prática docente, por ex., através de análise de casos ou de biografias profissionais.
c) Desenvolvimento profissional centrado na escola e em projectos, que é baseado nas necessidades da escola, utilizando o saber-fazer dos professores da escola e implicando os professores na implementação de uma inovação potenciadora de ocorrências de mudanças significativas.
d) Desenvolvimento profissional através de cursos de formação, em que um grupo de professores participam durante um certo período de tempo em actividades estruturadas para alcançar determinados objectivos e realizar tarefas estabelecidas, as quais levam a uma nova compreensão e mudança da conduta profissional.
e) Desenvolvimento profissional através da investigação, de acordo com este modelo surge a imagem do professor como investigador ligada ao movimento de investigação-acção, procurando melhorar a profissionalidade, através de um aprofundamento da capacidade de análise crítica, centrada na prática, num projecto estruturado, concebido para enfrentar um problema concreto.
Importa, no entanto, que qualquer que seja o modelo utilizado, este possa ser inserido no quadro de uma “aprendizagem organizacional”, ou seja, entendendo a escola como uma organização que aprende (Bolívar, 2003). Nesta óptica, a escola e os seus actores, ao aprenderem colegialmente, possuem uma competência nova com a qual podem resolver criativamente os seus problemas. Senger (citado em Bolívar, 2003) define “organizações que aprendem” como “organizações onde os indivíduos expandem continuamente a sua aptidão para criar os resultados que desejam, onde se criam novos e expansivos padrões de pensamento, onde a aspiração colectiva fica em liberdade, e onde os indivíduos aprendem continuamente a aprender em conjunto”.
Referências bibliográficas
Amado, J. S. & Freire, I. P. (2009). A(s) indisciplina(s) na escola. Compreender para prevenir. Coimbra: Almedina.
Bolívar, A. (2003). A escola como organização que aprende. Em R. Canário (Org.), Formação e situações de trabalho. Porto: Porto Editora.
Caeiro, J. & Delgado, P. (2005). Indisciplina em contexto escolar. Lisboa: Instituto Piaget.
Canavarro, M. (2007). Para a compreensão do abandono escolar. Lisboa: Texto.
Fonseca, V. (1999). Insucesso escolar. Lisboa: Instituto Piaget.
García, C. M. (1999). Formação de professores, para uma mudança educativa. Porto: Porto
Kelchtermans, G. (2009). O comprometimento profissional para além do contrato: auto-compreensão, vulnerabiIidade e reflexão dos professores. Em M. Flores e A. Veiga Simão (Org.), Aprendizagem e desenvolvimento profissional de professores: contextos e perspectivas. Mangualde: Pedago.
Picado, L. (2009). A indisciplina em sala de aula: uma abordagem comportamental e cognitiva. Psicologia.com.pt o portal dos psicólogos. Recuperado em 2011, Junho 13, de http://www.psicologia.com.pt
Raum, E. (2009). Bullying. Londres: Capstone Global Library.
Roque R. Antunes
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