quarta-feira, 9 de março de 2011

PRINCÍPIO DO FASCÍNIO


Este é um dos princípios basilares da pedagogia - a capacidade de despertar a atenção do outro, de o manter interessado na mensagem que vai evoluindo, de o entusiasmar com os conteúdos revelados, de o espantar com os sentidos que surgem de repente de uma frase, de uma história, de um enigma, de uma interrogação, de o convocar com o ritmo e a melodia da voz. E, às vezes, até com o silêncio e a suspensão. Com a comoção e a compaixão.
Nós, professores, bem o sabemos. Quantas vezes a fascinação é a porta de entrada para o trabalho árduo e exigente. Quantas vezes a fascinação é a pedra angular para o sucesso e para as aprendizagens para a vida. E lamentavelmente, quantas vezes somos como o linguista que ensinou o seu cão a falar: ensinamos, ensinamos, ensinamos. O problema é que ele não aprende.
Um dos ingredientes centrais para exercer a fascinação é a narrativização do conhecimento. É o recurso a uma história, a uma parábola, a um conto, a uma metáfora, a uma alegoria. Há toda uma tradição milenar que nos confirma este poder do enredo da palavra.

PEDAGOGIA DO CONTRATO


Quer se queira quer não, toda a pedagogia é uma "pedagogia do contrato" na medida em que gera todo um jogo de expectativas recíprocas, por vezes muito complexas, no qual interferem a posição social dos intervenientes, as regras do jogo institucional e organizacional, os explícitos e os implícitos da sala de aula - assim escreve
Philippe Meirieu.
Embora os mestres da transmissão afirmem que a missão do professor é simplesmente transmitir os conhecimentos (dispensando por isso a negociação, a relação pedagógica, o despertar da sede de aprender) é preciso praticar o preceito evangélico do perdão, porque não sabem o que dizem. De facto, sem "contrato" há escassas possibilidades de se ensinar alguma coisa a alguém. Porque o verbo aprender (como o verbo amar) dificilmente suportam o imperativo. Uma pedagogia, se quer existir, isto é, se aspira a fazer que alguém aprenda, tem de se basear na clareza das regras e pelo menos na sua tácita aceitação; tem de tornar claros os objectos a ensinar, os possíveis caminhos da aprendizagem autónoma, enunciar os critérios e os instrumentos de avaliação que vão ser usados. Tem de demarcar as fronteiras do permitido e do proibido, instituir práticas de responsabilidade e de responsabilização.

quinta-feira, 3 de março de 2011

ACERCA DA PEDAGOGIA


Afirma A. Peretit que não existe pedago­gia sem confiança, sem humor, sem indulgência. Prossigamos o enunciado dos seus pré-requisitos .

Não existe pedagogia sem alunos, sem pessoas, sem saber científico. Porque a pedagogia tem de ter referentes, sujeitos, objectos. A pedagogia faz-se da relação entre os saberes, os alunos, o professor. Não existe pedagogia sem gostar dos alunos concretos, sem acreditar na per­fectibilidade do ser humano, sem a com­paixão.
Não existe pedagogia sem o rigor da exi­gência e a distensão, sem a seriedade e o sorriso, sem a diversidade que com­bata o alheamento e o tédio.
Não existe pedagogia sem implicação, sem o sentido comunitário, sem a dádiva, a gratuitidade.
E não havendo pedagogia não há ensino (ou dificilmente há); e sem ensino não haverá aprendizagem. E sem aprendi­zagem não há crescimento. E sem cres­cimento não há a profissão docente, não há escola.
E para haver pedagogia (e ensino e apren­dizagem e profissão e escola) tem de haver um esforço de construção de comuni­dades profissionais, tem de haver a coo­peração, a procura colectiva das respos­tas para os infindáveis problemas.
Esta é a pedra angular da sobrevivên­cia. Os meus leitores já o sentem, já o sabem. Falta agora alar­gar o círculo dos que o sentem e sabem.

José Matias Alves

PEDAGOGIA DO ELOGIO


A capacidade de reconhecer e celebrar o bom desempenho dos alunos (ou dos professores), a prática de descobrir e valorizar as pequenas coisas que se fazem bem, a atenção às atitudes de humanismo, solidariedade e responsabilidade são os ingredientes fundamentais de uma boa relação pedagógica, preditora poderosa do sucesso educativo.
E uma pedagogia do elogio é tanto mais necessária quanto parece não ocupar grande centralidade nas práticas educativas. A censura e a sanção, as chamadas de atenção face a comportamentos indesejáveis são muito mais frequentes do que as práticas de saudação, de gratificação e de elogio.
Nesta construção de uma pedagogia do elogio retenhamos seis princípios estruturantes:
Princípio da oportunidade - o sentido de oportunidade é muito importante quando se pretende reforçar positivamente determinada acção ou resultado. Deve ser na hora certa que o elogio se enuncia e manifesta.
Princípio da sinceridade - o elogio não pode ser forçado; quem o pratica tem de estar realmente convencido do mérito do que viu e agir então em conformidade. Um elogio mentiroso é contra-producente.
Princípio da especificidade - quando elogia especifique o motivo da satisfação para assim reforçar positivamente o comportamento.
Princípio da pessoalidade - elogiar frente a frente, olhos nos olhos; mas também nos trabalhos que os alunos realizam.
Princípio da positividade - não estrague o elogio com um "mas" que o destrói; concentre-se nos elementos positivos da acção, "esqueça" os secundários menos positivos e guarde-os para outra oportunidade.
Princípio da pró-actividade - use o elogio para reforçar positivamente a acção e para expressar expectativas elevadas para a realização das actividades futuras.
Todos os dias poderemos encontrar reais motivos para elogiar. E seremos melhores fazendo os outros acreditar nas suas potencialidades. São pequenos gestos, pequenos passos que muito podem significar.

PEDAGOGIA DO NÃO


As crianças precisam de uma consistência normativa. Precisam, saber que há formas de comportamento boas e más. Precisam, aprender o significado prático de conceitos como controlo, esforço, obediência, respeito, sacrifício, responsabilidade, renúncia e exigência. Não se podem entregar impunemente ao capricho, à comodidade, ao egoísmo, à libertinagem, à desobediência, ao descontrolo, à falta de respeito e à irresponsabilidade. Há que argumentar, mas não até à exaustão. E há que impor quando não querem entender. As pessoas têm direitos, é claro, porém existe o correlato inseparável dos deveres e das responsabilidades.

Assim escreveu, em tempos, Miguel Santos Guerra, na sua crónica semanal no periódico La Opinion de Málaga. E não podia ser mais oportuna esta reflexão e esta lembrança. De facto, é preciso saber dizer não. Dizer não ao incumprimento dos deveres e das regras, ao desleixo, ao desrespeito, à arrogância. Dizer não aos atrasos sistemáticos, à fala inoportuna, ao desafio petulante. Dizer não à provocação gratuita (porque não interpela e apenas insulta), ao ruído de fundo, ao alheamento.
Evidentemente que é muito difícil ensinar a quem não quer (nestes casos ensina-se, às vezes, o que se é). Evidentemente que não se pode obrigar a aprender a quem não quer. (O verbo aprender, como o verbo amar não se conjugam no imperativo). Mas tem de haver um quadro mínimo de regras que têm de ser cumpridas sob pena de ser impossível a comunicação e, no limite, o ofício docente.
Saber, pois, dizer não. Com firmeza e dedicação. De forma a que o outro possa perceber que esse não é uma preciosa oportunidade de crescimento e convivialidade. Estará talvez na hora de rever os projectos educativos. E de inscrever na teoria e nas práticas, nas paredes e nas consciências alguns destes fundamentais princípios educativos.

PRINCÍPIOS PARA UMA RENOVAÇÃO DA EDUCAÇÃO


1) Princípio da escuta. A escuta é um dos pilares da educação. Sem escuta não há compreensão do outro, não há proximidade, não há adequação, não há a convocação do ser para se inscrever no projeto de aprender. Precisamos de praticar, insistentemente, como defendia Rubem Alves, a escutatória, essa arte de nos centrarmos empaticamente na fala e nos silêncios do outro.
2) Princípio da confiança. A confiança é uma condição sine qua non da educação. Sem confiança nas potencialidades e na perfetibilidade do ser humano não há projeto educativo que possa ter sucesso. Sem confiança na capacidade e no poder transformador dos professores, sem confiança na possibilidade do compromisso de todos, a educação será uma palavra sem sentido.
3) Princípio da proximidade. A proximidade é a base da pedagogia. Sem proximidade o outro é um número que apenas conta para as estatísticas. Educar é estar próximo para perceber os bloqueios, os impasses, os talentos que podem emergir.
4) Princípio da diversidade. Porque a escola não pode mais ser alimentada com a ideia de que podemos ensinar todos como se todos fossem um só. «Tudo é diferente de nós e por isso é que tudo existe», como sustentava Fernando Pessoa. A diversidade é, pois, um princípio vital que tem de ser transposto para a ação pedagógica. Nos métodos, nas atividades, nos tempos, na avaliação. Porque a indiferença às diferenças só gera o insucesso.
5) Princípio da comunidade. Sem o sentido de pertença é difícil haver ambientes favoráveis de aprendizagem. Precisamos de cultivar valores, códigos, sentidos partilhados e comuns.
6) Princípio da flexibilidade. A flexibilidade tem muito a ver com a diversidade, mas é sinónimo. Ser flexível na gestão do agrupamento de alunos e na gestão do tempo (por exemplo) para que a ação educativa se possa adequar às singularidades do outro.
7) Princípio da humanidade. O sentido de humanidade naquilo que fazemos na escola é o que permite fazer crescer as crianças na autonomia, na liberdade, na responsabilidade, no respeito, na compaixão. Este princípio rejeita o excesso de escola (a escola a tempo inteiro que muitas vezes é uma prisão sem sentido), a escola como estação de serviço.
8) Princípio do exemplo. Porque a escola não pode ser só discurso. Tem de ser ação, exemplo, referências concretas. É sabido que ensinamos o que somos. E ensinamos por aquilo que fazemos. Mais do que pensamos.
9) Princípio da exigência. Porque a vida é cruel e vai exigir muito de nós precisamos de promover o rigor, o método, a resiliência, a determinação, o valor do conhecimento. Porque a vida não é um passatempo.
10) Princípio da aprendizagem. Todos estamos na escola para aprender, coisas certamente diferentes, mas complementares. E o trabalho dos alunos é aprender. Quando não aprende não está a cumprir o seu ofício. Não está a crescer, a desenvolver-se. Aprender sempre é o nosso destino e a nossa condição existencial.