terça-feira, 6 de março de 2012

COMO APRENDER A APRENDER CRITICAMENTE?



Mesmo fora de moda e da ortodoxia reinante, aqui vai...

Há várias respostas, cada uma delas procurando contribuir parcialmente para facilitar uma aprendizagem significativa crítica. Talvez o conjunto (Moreira, 2005) possa, de fato, levar o aluno a aprender a aprender criticamente.

1. Levar em conta o conhecimento prévio do aluno. Aprendemos a partir do que já sabemos. O conhecimento prévio é a variável que mais influencia a aprendizagem significativa. Não tem sentido criticidade sem aprendizagem significativa. Como ser crítico de algo que não foi aprendido significativamente.

2. Abandonar a narrativa. Simplesmente repetir a narrativa do professor não estimula a compreensão, muito menos a criticidade. Centrar o ensino nos alunos, em atividades colaborativas ou individuais, que impliquem externalização dos significados que estão sendo por eles captados. “Negociar” significados.

3. Estimular os alunos a perguntarem, ao invés de dar-lhes respostas prontas que devem ser memorizadas. Todo o conhecimento humano é construído a partir da busca de respostas a questões. É mais importante perguntar (i.e. buscar conhecimento) do que saber respostas (muitas vezes sem significado).

4. Utilizar distintos materiais educativos. Não centrar o ensino em um livro de texto, em uma apostila ou em um manual. Oferecer explicações, aceitas no contexto matéria de ensino, segundo diferentes perspectivas, distintos autores. Ater-ser a um único material (livro, apostila, manual, notas de aula) é treinamento, não educação.

5. Ensinar que o significado está nas pessoas, não nas palavras, nas coisas. Os significados são contextuais. Aqueles que são aceitos no contexto de matéria de ensino, e que são aqueles que os alunos devem captar, podem não ser os mesmos em outros contextos que não o da matéria de ensino. Promover a discriminação entre significados aceitos e não aceitos na matéria do ensino.

6. Aproveitar o erro como fator de aprendizagem. É normal errar. O conhecimento científico, por exemplo, progride corrigindo teorias erradas (que, em um dado momento, são bem aceitas e podem ter muitas aplicações). Incentivar os alunos a serem detectores de erros, a buscarem outras explicações.

7. Mostrar que o conhecimento humano é incerto, que depende das perguntas feitas, das definições e metáforas utilizadas. Perguntas são instrumentos de percepção, definições e metáforas são instrumentos para pensar. O conhecimento seria outro se as perguntas, as definições e as metáforas fossem outras. (Postman & Weingartner, 1969).

8. Implementar distintas estratégias de ensino. Assim como os materiais educativos, as estratégias de ensino também devem ser diversificadas. Abandonar o quadro-de-giz (ou os slides Power Point) como única estratégia. Usar sempre a mesma estratégia torna o ensino aborrecido e não estimula a criticidade.

9. Ajudar os alunos a livrarem-se dos obstáculos epistemológicos. Incentivá-los a desaprender (no sentido de não usar) conhecimentos que podem estar bloqueando a aprendizagem significativa de outros. Desaprender, ou seja, não usar “regras que não servem”, é uma estratégia de sobrevivência.

Provavelmente, o aluno que perceber que novos conhecimentos tem a ver com seus conhecimentos prévios, que aprender esses conhecimentos a partir de diferentes materiais educativos e diferentes estratégias de ensino, que captar seus significados como sendo contextuais, que entender que tais conhecimentos podem ser muito bons, mas são incertos pois dependem de perguntas, definições e metáforas, será um construtivista crítico e um permanente aprendiz. Possivelmente, não terá aprendido mecanicamente um grande repertório de respostas prontas para exames padronizados, mas terá aprendido a ser crítico, a ser epistemologicamente curioso, como diria Paulo Freire, a aprender a aprender, como proporia Carl Rogers, e começado a ser um permanente buscador de respostas e detector de erros, como preconizaria Neil Postman. Que escola fantástica seria essa!

Marco Antonio Moreira
REMPEC - Ensino, Saúde e Ambiente, v.4 n1 p.2-17, Abril 2011.

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