sábado, 12 de junho de 2010
PRINCÍPIOS DA FORMAÇÃO DE ADULTOS
PRINCÍPIOS DA FORMAÇÃO DE ADULTOS
(...) É este esforço de reflexão (inacabada) que procuraremos transmitir de seguida, através da sistematização de alguns princípios que, a nosso ver, devem servir de referência a qualquer projecto de formação de adultos, quer seja no quadro da formação profissional, quer seja no âmbito da formação de formadores.
1.º princípio
O adulto em situação de formação é portador de uma história de vida e de uma experiência profissional; as suas vivências e os contextos sociais, culturais e institucionais em que as realizou são fundamentais para perceber o seu processo de formação. Mais importante do que pensar em formar este adulto é reflectir sobre o modo como ele próprio se forma, isto é, o modo como ele se apropria do seu património vivencial através de uma dinâmica de "compreensão retrospectiva".
2.º princípio
A formação é sempre um processo de transformação individual, na tripla dimensão do saber (conhecimentos), do saber-fazer (capacidades) e do saber-ser (atitudes).
Este objectivo só será atingido se:
i) houver uma grande implicação do sujeito em formação, de modo a ser estimulada uma estratégia de auto-formação, a única que pode assegurar resultados a longo prazo, pois "ninguém forma ninguém" e ... "a formação pertence, de facto, a quem se forma";
ii) for encarada esta estratégia numa perspectiva de auto-formação participada, e não numa óptica isolacionista, pois a interacção com o grupo (formandos e formadores) é um elemento estruturante e profundamente enriquecedor do processo de formação individual;
ii)•for assegurada uma participação alargada dos formandos na concepção e implementação do projecto de formação, bem como uma interacção constante e uma cooperação no seio da equipa de trabalho.
3.º princípio
A formação é sempre um processo de mudança institucional, devendo por isso estar intimamente articulada com as instituições onde os formandos exercem a sua actividade profissional.
Este objectivo só será atingido se:
i)•houver uma grande implicação das instituições na concepção, implementação e avaliação do projecto de formação;
ii)•for celebrado uma espécie de contrato de formação entre as três partes interessadas (equipa de formação, formandos e instituições), que defina o mais claramente possível o contributo de cada um dos parceiros e estipule os compromissos a assumir antes, durante e após a realização do projecto de formação;
iii) for desenvolvida uma estratégia de formação em alternância, que viabilize uma ligação estrutural entre os espaços de formação e de trabalho; Importa assegurar que esta alternância seja estrutural, e não apenas justaposta ou associativa, pois só assim será possível uma imbrincação efectiva entre o "aprender" e o "fazer";
iv) for a formação entendida, não só como um contributo futuro para uma mudança institucional, mas também como um elemento actuante (no presente) das dinâmicas institucionais;
v)•assumir o projecto de formação sem equívocos a dimensão social, que está presente (quer queiramos, quer não!) em toda e qualquer acção de formação de adultos.
4. º princípio
Formar não é ensinar às pessoas determinados conteúdos, mas sim trabalhar colectivamente em torno da resolução de problemas. A formação faz-se na "produção", e não no "consumo", do saber.
Este objectivo implica que se procurem levar à prática três conceitos centrais da formação de adultos:
•Formação-Acção - A formação deve organizar-se numa tensão permanente entre a reflexão e a intervenção, pois o saber não é independente dos instrumentos utilizados na sua elaboração e das práticas sociais que se encontram na sua génese. Por outro lado, é fundamental que se estipulem as potencialidades formadoras das diversas actividades profissionais;
•Formação-Investigação - A formação deve basear-se no desenvolvimento de um projecto de investigação (individual e/ou institucional); esta opção permite a junção de duas operações intimamente ligadas pela mesma matéria-prima (o saber), mas que tradicionalmente têm estado separadas: a formação socialmente reconhecida faz-se em centros especializados e a investigação cientificamente reconhecida faz-se em laboratórios próprios.
•Formação-Inovação - Se a formação implica uma transformação individual e uma mudança institucional, então ela deve realizar-se através de um empenho dos formandos num processo de inovação, isto é, num processo de procura de soluções alternativas para a resolução dos problemas; a formação deve ser encarada como uma função integradora, institucionalmente ligada à mudança.
5.º princípio
A formação deve ter um cariz essencialmente estratégico, preocupando-se em desenvolver nos formandos as competências necessárias para moblilizarem em situações concretas os recursos teóricos e técnicos adquiridos durante a formação.
A consecução deste objectivo obriga a:
i)•definir de forma rigorosa os objectivos da formação, formulando-os, por um lado, em termos das competências que os formandos terão de mobilizar e, por outro lado, em termos das mudanças que se desejam no plano profissional e/ou institucional;
ii)•conceber um percurso de formação, estruturado e organizado em função dos objectivos acima definidos, que, sem restringir as liberdades e os ritmos individuais, dê consistência a uma situação colectiva de formação;
iii)•destrinçar claramente os diferentes níveis de avaliação (a avaliação dos formandos em situação de formação, a avaliação dos formandos em situação de trabalho e a avaliação do projecto de formação), construindo os instrumentos adequados à avaliação rigorosa de cada um destes níveis.
6.º princípio
E não nos esqueçamos nunca que, como dizia Sartre, o homem caracteriza-se, sobretudo, pela capacidade de ultrapassar as situações, pelo que consegue fazer com que os outros fizeram dele. A formação tem de passar por aqui.
Nóvoa. António (1988). A Formação tem de passar por aqui: as histórias de vida no projecto Prosalus. O Método (auto)biográfico e a formação. Lisboa: Ministério da Saúde
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