quarta-feira, 14 de abril de 2010

AUTORIDADE, AMOR, EXEMPLO, ESTÍMULO


É preciso que se entenda que a autoridade dos pais, exerci da com constância, coerência e sentido de proporção é factor essencial para que a criança se sinta segura. Ela precisa de conhecer as regras, de ter claros os seus limites. Se tal não for o caso, interrogarão os pais na idade adulta, e de forma inteiramente justa, porque não foram eles capazes de lhes indicar o caminho. É preciso também que se compreenda que o exercício da autoridade pressupõe a transmissão de valores. Esses valo¬res podem ser religiosos ou apenas éticos, mas são herança da família. de alguma forma o que define o comportamento daquele grupo de pessoas, actos de fé do que consideram importante na relação e até na essência da própria existência. Não estou de acordo que se deixe «para mais tarde» a afirmação daquilo em que se acredita, sejam os pais católicos, protestantes ou muçulmanos, ateus ou agnósticos, desde que, é claro, a afirmação de um credo venha guardada no invólucro da tolerância.
A educação vem do exemplo, factor mais forte no moldar de mentes e comportamentos. O único real, dirão alguns. Para a sustentar, porém. é necessário juntar ao exemplo o prémio e o castigo, consequências inevitáveis de atitudes e opções. A noção de que existem consequên¬cias previsíveis para as acções, sejam elas consequências boas ou más dependendo da bondade dos actos, é inescapável, se não queremos assistir, nas gerações futuras, ao espectáculo actual, e absolutamente deplorável, em que figuras de autoridade a perdem, pela manifestação pública da ausência de valores e de princípios. «Coitados, não os sou-beram educar.»
Uma vez estabelecido o princípio geral, existem métodos que tornam mais eficaz o exercício da autoridade. A criança deverá compreender que qualquer acto que pratica tem consequências, e estas não devem ser vistas como punição, mas como algo que decorre naturalmente de uma atitude, como em qualquer circunstância da vida. A retirada de privilégios de uma forma proporcionada e razoável é preferível a um castigo. Entendo mal que se castigue uma criança impedindo-a de fazer desporto ou actividade física. Algo que se prende com a saúde geral da criança não deverá ser retirado.
Muitas vezes a nossa reacção a um comportamento da criança depende menos deste do que do nosso estado emocional, cansaço, dificuldades no trabalho ou outras preocupações que nada têm a ver
com a criança. Por isso é preferível tentar evitar as situações geradoras de conflito.
Há lutas desnecessárias, porque pouco importantes. Alguém me contou que ao interrogar um amigo porque razão deixava o filho usar piercings, este respondeu: «Estou a guardar o «NÃO» para quando ele me pedir uma moto!». Esta história é exemplar. Devemos ser firmes nas questões importantes, tolerantes no que é acessório, se bem que essa distinção não seja universal, e dependa de aspectos culturais. O humor sem humilhação pode ser uma arma importante no esvaziar de situações de tensão.
Um dos poucos princípios que tenho como absoluto, é o da necessi¬dade fundamental de as crianças se sentirem amadas, de um amor forte e seguro, que não depende de comportamentos bons ou maus, e que se prende com a relação quase transcendente entre pais e filhos. Claro que o amor pressupõe, por vezes, atitudes muito firmes e até duras, mas sempre no interesse da criança ou adolescente.
O elogio é o mais poderoso dos estímulos, o prémio o reconheci¬mento tangível do sucesso. Quando era criança, participei num torneio de Judo em que obtive uma classificação que dava direito a uma meda¬lha. Os organizadores da competição, porém, não as tinham encomen¬dado a tempo de serem entregues às crianças no dia da competição. Lembro-me bem da decepção ao perceber como eram incoerentes e imperfeitos os adultos. Sejamos prontos a entregar as medalhas que os nossos filhos conquistaram, sobretudo as medalhas dos afectos, um beijo ou um abraço. Mas também aquela visita prometida ao Jardim Zoológico, ou a ida ao parque para jogar à bola.
Ninguém pode dar o que não tem. Como ser paciente e tranquilo, quando se está impaciente e ansioso? É por isso necessário que os pais tenham tempo para si próprios, para namorar, passar um fim-de-semana a sós, jantar fora, ir ao cinema. Estes tempos de recuperação emocional são fundamentais, em particular quando o quotidiano se torna ainda mais complicado por uma, (ou mais!), crianças com PHDA.

Nuno Lobo Antunes

Sem comentários: