sábado, 15 de maio de 2010

Filmes e Motivação dos Alunos


Algumas das estratégias para motivar os alunos
referidas anteriormente encontram-se explicitadas em
três filmes (“Clube dos poetas mortos”, “O professor” e
“Mentes perigosas”), que ilustram possíveis formas
de estabelecer “laços” ou desenvolver processos de
identificação que possam contribuir para a motivação
dos alunos.
Tendo em conta que os professores têm poucas
oportunidades para serem confrontados com o desempenho
de colegas na sala de aula, os filmes em causa
podem constituir bons exemplos a reter, pelo que iriamos
passar a destacar alguns dos aspectos que, neste âmbito,
nos parecem mais relevantes.
No “Clube dos poetas mortos” é notória a diferença
entre Mr. Keeting e os professores que aparecem no
início do filme. Estes últimos, para além duma atitude
que traduz pouca motivação para ensinar, enfatizam a
avaliação dos conhecimentos como a finalidade do
processo de ensino-aprendizagem, devendo os alunos
estudar as matérias porque vão ser avaliados sobre elas.
Mr. Keeting apresenta uma postura de grande entusiasmo
e gosto pela docência, procurando contribuir para o
desenvolvimento pessoal e social dos seus alunos. Este é
um dos grandes objectivos da educação escolar na
actualidade pelo que, não obstante este filme procurar
retratar a realidade educativa dos anos 60 num colégio
tradicional dos EUA, a atitude do Mr. Keeting permanece
bastante actual, constituindo um bom exemplo
para muitos professores. Especificamente, este professor
procura desenvolver o espírito crítico dos alunos perguntando-
lhes constantemente “porque é que o autor diz
isto?”. Inclusivamente, a situação em que se coloca em
cima da secretária e convida os alunos a fazerem o
mesmo tem este objectivo: “Estou em cima da secretária
para me lembrar que devemos olhar constantemente as
coisas de forma diferente. Não tenham só em mente o
que o autor pensa. Pensem no que vocês pensam.
Esforçem-se por encontrar a vossa própria voz”. Mas a
parte do filme que parece melhor ilustrar o papel que o
professor pode desempenhar a este nível é a situação em
que no início da aula Mr. Keeting solicita a um aluno
(Mr. Anderson), cujo comportamento revela alguma
timidez e falta de confiança em si próprio, para apresentar
o poema que todos os alunos deveriam ter feito
como trabalho de casa e este aluno não o havia realizado.
Habitualmente, o que acontece nestas circunstâncias
é o professor passar a um aluno seguinte até encontrar
algum que tenha feito o “TPC” e a partir daí continuar a
sua aula. Este tipo de alunos são categorizados como
“calados”, mas até correspondem a alunos que os
professores gostam de ter nas suas turmas porque não
são indisciplinados e até estão com atenção e obtêm
positiva nos testes de avaliação. Só que, embora estes
alunos até adquiram alguns conhecimentos curriculares,
no plano do seu desenvolvimento pessoal e social pouco
acontece, continuando “calados” nos anos lectivos seguintes.
Mr. Keeting revela ter uma sensibilidade particular
para esta situação (“Mr. Anderson pensa que tudo
dentro de si é inútil e embaraçoso. Engana-se, tem algo
dentro de si com grande valor”), incentivando este aluno
para deixar emergir o seu potencial criativo ao levá-lo a
ser capaz de criar um poema espontaneamente na sala de
aula que surpreendeu o próprio aluno e os seus colegas.
Além disso, outra particularidade, nesta situação, é
o facto de Mr. Keeting no final ir junto deste aluno
dizendo-lhe ao ouvido “nunca te esqueças deste momento”.
Fundamentalmente, o que todas as pessoas
procuram são experiências de vida positivas. Também os
alunos apresentam este objectivo, devendo o professor
tentar proporcionar-lhes este tipo de vivências, pois estas
também representam experiências gratificantes para os
próprios professores.
O filme “O professor” apresenta a particularidade de
traduzir uma situação cada vez mais frequente, aquela
em que o professor inicia esta actividade profissional de
forma transitória e com pouca motivação. É o caso de
Mr. Holland que foi ser professor porque pensava que
esta actividade lhe permitia ter mais “tempo livre” para
escrever as suas músicas, conforme refere logo no início
a um colega professor. A desmotivação de Mr. Holland é
bem manifesta na relação distante que mantém com os
alunos, estando apenas preocupado em cumprir o
programa e manifestando-se “irritado” quando os alunos
apresentam baixos resultados nos testes. Inclusivamente,
refere à sua mulher que quando era aluno queria estar
noutro sítio qualquer, mas nunca pensou que os professores
sentissem o mesmo, acrescentando inclusivamente
o seguinte: “Odei-o ensinar. Ninguém consegue
ensinar aqueles alunos”. Até que resolve começar a ir ao
encontro dos interesses dos alunos, verificando que estes
e ele próprio gostaram mais desta aula do que das
anteriores. Faz então esta opção por tornar as aulas mais
interessantes para os alunos e para si próprio, constituindo
um bom exemplo de uma atitude fundamental a
tomar por qualquer professor, a de tentar tornar as
experiências ocorridas no âmbito do processo de ensinoaprendizagem
tão satisfatórias quanto possível e de as
vivenciar com alegria. E parece valer a pena, pois no
final do filme, quando lhe é feita uma festa surpresa de
despedida, são significativas as palavras de uma ex-aluna
sua: “Mr. Holland teve uma profunda influência na
minha vida. Em muitas vidas. Contudo sinto que ele
considera grande parte da sua vida disperdiçada. Ele
estava sempre a trabalhar na sua sinfonia. Ela ia torná-lo
famoso, rico. Provavelmente as duas coisas. Mas Mr.
Holland não está rico. E não é famoso. Pelo menos fora
da nossa pequena cidade. Portanto seria natural ele
considerar-se um falhado. Mas estaria enganado. Porque
eu acho que ele alcançou um êxito muito superior à
riqueza e fama. Olhe à sua volta. Não há uma vida nesta
sala que não tenha influenciado. E cada um de nós é uma
pessoa melhor graças a si. Nós somos a sua sinfonia Mr.
Holland. Nós somos as melodias e as notas da sua obra.
Nós somos a música da sua vida”.

Por seu turno, o filme “Mentes perigosas” pretende
ilustrar a realidade cada vez mais actual das nossas
escolas, com turmas constituídas por alunos desinteressados
e indisciplinados. Esta situação provoca um
“choque com a realidade” da Mrs. Louene, professora
em início de carreira que nunca pensou vir a encontrar
uma turma com estas características. Face à situação
geral de indisciplina dos alunos evidenciada na primeira
aula, esta professora tenta utilizar uma estratégia que
havia lido num livro sobre formas de lidar com a
indisciplina, concretamente escrever o nome do aluno
mais indisciplinado no quadro. No entanto, esta estratégia
não resultou, ficando Mrs. Louene desesperada
com o facto de não conseguir controlar a situação.
Convém salientar que o problema não está nos livros,
mas no aproveitamento que deles é feito, pois as
sugestões apresentadas para a resolução de situaçõesproblema
devem ser encaradas como meras hipóteses de
solução e não como receitas universais. Isto é, qualquer
estratégia para resultar tem que ser integrada no estilo
pessoal do professor que a vai utilizar e na situação em
causa, tendo em conta os alunos envolvidos.
Nesse sentido, o aproveitamento da experiência e das
qualidades pessoais por cada professor é fundamental
para gerir situações de indisciplina. No caso de Mrs.
Louene ela tenta chamar a atenção dos alunos ou criar
laços de identificação com eles indo ao encontro dos seus
interesses, ao salientar o facto de já ter sido fuzileira e de
os alunos também poderem vir a ser bons fuzileiros,
sendo a partir daquele momento cada um deles um
aspirante. Inclusivamente, refere aos alunos que “a partir
deste momento todos têm 20 valores, só tendo que se
esforçar para manter a nota”. Este discurso vai levar estes
alunos a entender o sentido da escola de forma completamente
diferente, voltando a acreditar na possibilidade
de obter sucesso escolar e, logo, a apresentar
comportamentos mais adequados para que a aprendizagem
pudesse ocorrer.
A tentativa de ir ao encontro dos interesses, vivências
e linguagem dos alunos também é evidente nos
poemas que começa por analisar com eles. Esta é uma
estratégia que muitos professores, sobretudo de português,
poderiam utilizar na actualidade, aproveitando as
letras de algumas músicas de que os alunos gostam, em
vez de rejeitarem à partida o interesse destas músicas,
porque “é só barulho”. Este ir ao encontro dos interesses
dos alunos é fundamental para que o professor consiga
fazer com que os alunos se interessem pelas matérias que
efectivamente pretende que eles aprendam. Concretamente,
Mrs. Louene procura levar os alunos a fazerem
essa transferência de interesses através do concurso
“Dylan-Dylan”. Os vencedores deste concurso teriam
uma recompensa. Este é outro aspecto particularmente
relevante nas estratégias para motivação dos alunos
evidenciadas neste filme. Isto é, a utilização de recompensas
pode resultar numa fase inicial quando os alunos
apresentam uma motivação muito baixa para as actividades
escolares. No entanto, quando os alunos começam
a envolver-se nestas actividades, as estratégias
deverão ser diferentes, incentivando a sua motivação
intrínseca. Foi o que Mrs. Louene fez, pois numa situação
seguinte em que sugeriu aos alunos a realização de
uma tarefa escolar, quando um aluno lhe perguntou qual
era o prémio por realizarem essa actividade, ela respondeu:
“aprenderem a ler e compreenderem é o
prémio”. Depois fundamenta esta posição utilizando um
exemplo e uma linguagem compreensível para os alunos:
o cérebro é como um músculo e, tal como eles correrão
melhor e mais depressa se treinarem a corrida, também
poderão usar melhor o pensamento se aprenderem as
matérias escolares (“Cada nova ideia constrói um novo
músculo. São esses músculos que vos podem tornar
poderosos. São as vossas armas. E neste mundo inseguro
têm que andar armados”). Além disso, acentua o facto
de os alunos terem que ir à escola e já que assim é devem
aproveitar para aprender (“Tentem. De qualquer forma
já estão aqui. Se no fim do período não forem mais
rápidos, fortes e espertos não perderam nada. Mas se isso
acontecer vão ser mais díficeis de derrubar”). É também
particularmente interessante a forma como Mrs. Louene
contacta os pais de um aluno suspenso, procurando-os
para evidenciar o potencial e as qualidades positivas
do seu filho, contribuindo para a criação de “laços”
afectivos também com as famílias. Assim, também sobre
a forma de abordar e chamar as famílias a participar no
processo de educação e de desenvolvimento dos seus
filhos, pela positiva e em colaboração e sintonia com os
professores, Mrs. Louene constitui um bom exemplo.
Em conjunto, estes três filmes ilustram que as aulas
tanto podem ser “chatas” ou “uma perda de tempo”,
como interessantes, evidenciando a importância da motivação
dos professores para o seu próprio sucesso e
realização profissional e também para a motivação dos
alunos. No entanto, não há receitas, devendo cada professor
descobrir o seu caminho, tendo em conta as suas
Estratégias para motivar os alunos
experiência e qualidades pessoais, “fazendo uso de si
mesmo como instrumento” (COMBS, BLUME, NEWMAN
e WASS, 1979).

Os professores são diferentes e devem aceitar essa
diferença com naturalidade, tentando aproveitá-la na sua
prática pedagógica. As diferenças manifestam-se na
própria interpretação dos acontecimentos, quanto mais
na forma de actuação. Por exemplo, face à mesma
situação, “um aluno ri na sala de aula”, diferentes
professores podem apresentar interpretações diferentes
como sejam: “aquele aluno está a gozar comigo, vou
repreendê-lo”; “aquele aluno está satisfeito, deve ter
entendido a explicação que estou a dar”; “alguém deve
ter-lhe contado alguma coisa engraçada”; “aquele aluno
ri sem razão, deve ter algum problema psicológico”.
Não há um perfil universal de “bom professor”, tal
como não há um perfil de “líder universal”. Por exemplo,
o Modelo Situacional de Liderança, de Blanchard,
Zigarmi e Zigarmi (1986), considera que o estilo de
liderança mais adequado depende do grau de competência
e de motivação dos sujeitos que o líder pretende
influenciar. Neste sentido, distingue entre quatro estilos
de liderança: direcção, orientação, apoio e delegação. Na
sala de aula, a adequação e eficácia do estilo a adoptar
pelo professor também depende muito dos alunos e,
inclusivamente, diferentes alunos preferem diferentes
estilos de professor. Numa investigação realizada por
Villa (1985), em que distinguiu sete tipos de professor –
o didáctico (pela clareza da explicação), o organizado
(pela metodologia utilizada), o dominante (pela exigência),
o fisico (pela aparência), o cordial (pelo humor),
o afectivo (pela atenção personalizada) e o entusiasta
(pela motivação expressa) – verificou-se que todos
os tipos são considerados importantes pelos alunos,
consoante o estilo do próprio aluno, o seu nível de ensino
e as situações concretas. Inclusivamente, o mesmo aluno
pode preferir um estilo de professor num dado momento
e outro estilo noutro momento do mesmo ano lectivo.
Por exemplo, os estilos cordial e afectivo podem ser mais
valorizados no início do ano lectivo, enquanto os estilos
didáctico e organizado podem ser preferidos mais no
final do ano lectivo ou na proximidade de situações de
avaliação de conhecimentos.
O que é importante é o professor ter uma perspectiva
global das hipóteses de trabalho ou estratégias possíveis
para poder decidir por aquela que considere mais adequada
num determinado momento, em sintonia com o
seu estilo pessoal e as situações com que se confronta.

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