sábado, 15 de maio de 2010

Dicas para a Motivação dos alunos


Embora os professores tenham perdido poder nos últimos anos, dificultando a utilização de alguns factores de influência sobre os alunos que no passado resultavam, continuam a possuir um instrumento fundamental para conseguirem criar laços de identificação com os alunos, influenciando-os:

a linguagem utilizada na relação pedagógica, quer verbal, quer não verbal.
Algumas das frases que o professor pode utilizar para uma “relação de agrado” são as seguintes:

“devias estar orgulhoso dos teus resultados”, em vez de “estou orgulhoso de ti” (no sentido de responsabilizar o aluno pelo seu comportamento, indo ao encontro da sua necessidade de auto-determinação);
“estás quase lá”, em vez de “está quase tudo errado” ou “não fazes nada de jeito” (no sentido de promover uma percepção de aperfeiçoamento pessoal e o esforço do aluno);

“estejam à vontade para perguntar sempre que não compreenderem alguma explicação ou queiram apresentar algum comentário relevante”, em vez de “não me interrompam, se tiverem dúvidas perguntem no fim” (no sentido de promover a participação dos alunos e a compreensão e o acompanhamento das explicações do professor);

“vês como hoje te estás a portar bem”, em vez de “para brincar estás sempre pronto” ou “tinhas que ser tu” (no sentido de evidenciar os comportamentos de disciplina dos alunos e não apenas os de indisciplina).

Também a aprendizagem e a motivação dos alunos depende da identificação destes com o professor. No entanto, verifica-se que muitos alunos apresentam insucesso funcional, isto é, a sua aprendizagem ou saber não corresponde ao que seria de esperar dado o nível de escolaridade, e muitos encontram-se desmotivados relativamente às tarefas escolares. Esta situação constitui
um dos principais problemas para os professores. Numa investigação conduzida por Lens (1994), verificou-se que a maioria dos professores considera que mais de metade dos seus alunos se encontram desmotivados para o estudo, sentindo que, mesmo que queiram, não conseguem
resolver este problema.

Com base nestes resultados, não obstante deverem ser tomadas medidas que permitam restituir o poder aos professores, nomeadamente serem definidos objectivos mínimos de aprendizagem necessários para que os alunos possam transitar para o ano lectivo seguinte e serem tidas em conta as notas obtidas desde o início do percurso escolar dos alunos para o ingresso no ensino
superior, tornando-os mais responsáveis e motivados para aprender logo desde os primeiros anos de escolaridade, parece fundamental analisar algumas estratégias que o professor pode utilizar para se confrontar de forma mais autoconfiante e com sucesso perante as situações de desinteresse dos seus alunos.


Especificamente, existem diversas estratégias que os professores podem utilizar para motivar os seus alunos para as tarefas escolares (ABREU, 1996; CARRASCO e BAIGNOL, 1993; JESUS, 1996B; LENS e DECRUYENAERE, 1991):
1. manifestar-se entusiasmado pelas actividades realizadas com os alunos, constituindo um modelo ou exemplo de motivação para eles;
2. clarificar, logo no início do ano lectivo, o “porquê?” da seqüência dos conteúdos programáticos
da disciplina que lecciona, levando os alunos a aperceberem-se da coerência interna entre as matérias a aprender e a adquirirem uma perspectiva global dessas aprendizagens;
3. explicitar o “para quê?” das matérias do programa da disciplina que lecciona, em termos da sua ligação à realidade fora da escola e da sua relevância para o futuro dos alunos;
4. alargar a perspectiva temporal de futuro dos alunos, levando-os a valorizar certas metas para
cujo alcance a escola constitui um meio ou instrumento, contribuindo para que eles não se limitem a uma atitude imediatista e consumista face às alternativas facultadas pela sociedade
actual;
5, salientar as vantagens que poderão advir para a vida futura dos alunos se estudarem, comparativamente às desvantagens se não estudarem, embora actualmente haja uma grande incerteza quanto às possibilidades de concretização dos projectos pessoais;
6. procurar saber quais são os interesses dos alunos e o nome próprio de cada um deles;
7. utilizar recompensas exteriores ao gosto e à competência que a realização das próprias tarefas
poderiam proporcionar, indo ao encontro dos interesses dos alunos, apenas no início do processo
de ensino-aprendizagem e quando os alunos apresentam uma motivação muito baixa;
8. deixar os alunos participarem na escolha das matérias e tarefas escolares, sempre que possível;
9. criar situações em que os alunos tenham um papel activo na construção do seu próprio saber (de acordo com o provérbio “se ouço esqueço, se vejo lembro, se faço aprendo”);
10. aproveitar as diferenças individuais na sala de aula, levando os alunos mais motivados, com mais conhecimentos ou que já compreenderam as explicações do professor a apresentarem os conteúdos aos outros alunos com mais dificuldades, contribuindo para uma maior compreensão e retenção da matéria por parte dos primeiros e para a modelação dos últimos;
11. incentivar directamente a participação dos alunos menos participativos, através de “pequenas” responsabilidades que lhes possam permitir serem bem sucedidos;
12. fomentar o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, através de estratégias de trabalho autónomo e de trabalho de grupo;
13. utilizar metodologias de ensino diversificadas e que tornem a explicação das matérias mais clara, compreensível e interessante para os alunos;
14. estabelecer as relações entre as novas matérias e os conhecimentos anteriores;
15. partir de situações ou acontecimentos da actualidade ou da realidade circundante para ensinar as matérias aos alunos;
16. utilizar um ritmo de ensino adequado às capacidades e conhecimentos anteriores dos alunos,
previligiando a qualidade à quantidade de matérias expostas;
17. criar situações de aprendizagem significativas para os alunos, contribuindo para uma retenção das aprendizagens a médio/longo prazo;
18. evitar levar os alunos a estudar apenas na perspectiva do curto prazo porque vão ser avaliados sobre as matérias em causa;
19. diminuir o significado ansiógeno dos testes de avaliação, contribuindo para o potencializar das qualidades dos alunos, para um maior empenhamento destes noutras tarefas escolares e uma menor ansiedade face às provas de avaliação;
20. proporcionar vários momentos de avaliação formativa aos alunos, levando-os a sentirem satisfação por aquilo que já conseguiram aprender e motivação para aprenderem as matérias seguintes;
21. reconhecer o progresso escolar dos alunos, comparando os seus conhecimentos actuais com os seus conhecimentos anteriores, levando-os a percepcionar as melhorias ocorridas e a acreditar na possibilidade de ainda poderem melhorar mais os seus desempenhos se se esforçarem;
22. reconhecer e evidenciar tanto quanto possível o esforço e a capacidade dos alunos, não salientando sobretudo os erros cometidos por estes;
23. ter confiança e optimismo nas capacidades dos alunos para a realização das tarefas escolares,
explicitando-o verbalmente;

24. contribuir para que o aluno seja bem sucedido nas tarefas escolares, aumentando a sua autoconfiança, nível de excelência e “brio” na realização escolar;
25. promover a realização de tarefas de um nível de dificuldade intermédio aos alunos, pois as tarefas demasiado fáceis ou demasiado difíceis não fomentam o envolvimento do aluno, nem a percepção de competência pessoal na sua realização;
26. levar os alunos a atribuir os seus fracassos a causas instáveis (por exemplo, falta de esforço) e não a causas estáveis (por exemplo, falta de capacidade), de forma a que aumentem as expectativas de sucesso e o empenhamento em situações futuras;
27. clarificar crenças inadequadas sobre os resultados escolares que os alunos possuam e que possam estar a contribuir para um menor esforço ou empenhamento nas actividades de estudo (por exemplo, “o professor não gosta de mim e, logo, não vou conseguir obter boa nota”);
28. ajudar os alunos a aproveitarem o esforço dispendido nas tarefas de aprendizagem, através do desenvolvimento de competências de estudo, pois “mais vale estudar pouco e bem do que muito mas mal”.


Saul Neves de Jesus
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008

Filmes e Motivação dos Alunos


Algumas das estratégias para motivar os alunos
referidas anteriormente encontram-se explicitadas em
três filmes (“Clube dos poetas mortos”, “O professor” e
“Mentes perigosas”), que ilustram possíveis formas
de estabelecer “laços” ou desenvolver processos de
identificação que possam contribuir para a motivação
dos alunos.
Tendo em conta que os professores têm poucas
oportunidades para serem confrontados com o desempenho
de colegas na sala de aula, os filmes em causa
podem constituir bons exemplos a reter, pelo que iriamos
passar a destacar alguns dos aspectos que, neste âmbito,
nos parecem mais relevantes.
No “Clube dos poetas mortos” é notória a diferença
entre Mr. Keeting e os professores que aparecem no
início do filme. Estes últimos, para além duma atitude
que traduz pouca motivação para ensinar, enfatizam a
avaliação dos conhecimentos como a finalidade do
processo de ensino-aprendizagem, devendo os alunos
estudar as matérias porque vão ser avaliados sobre elas.
Mr. Keeting apresenta uma postura de grande entusiasmo
e gosto pela docência, procurando contribuir para o
desenvolvimento pessoal e social dos seus alunos. Este é
um dos grandes objectivos da educação escolar na
actualidade pelo que, não obstante este filme procurar
retratar a realidade educativa dos anos 60 num colégio
tradicional dos EUA, a atitude do Mr. Keeting permanece
bastante actual, constituindo um bom exemplo
para muitos professores. Especificamente, este professor
procura desenvolver o espírito crítico dos alunos perguntando-
lhes constantemente “porque é que o autor diz
isto?”. Inclusivamente, a situação em que se coloca em
cima da secretária e convida os alunos a fazerem o
mesmo tem este objectivo: “Estou em cima da secretária
para me lembrar que devemos olhar constantemente as
coisas de forma diferente. Não tenham só em mente o
que o autor pensa. Pensem no que vocês pensam.
Esforçem-se por encontrar a vossa própria voz”. Mas a
parte do filme que parece melhor ilustrar o papel que o
professor pode desempenhar a este nível é a situação em
que no início da aula Mr. Keeting solicita a um aluno
(Mr. Anderson), cujo comportamento revela alguma
timidez e falta de confiança em si próprio, para apresentar
o poema que todos os alunos deveriam ter feito
como trabalho de casa e este aluno não o havia realizado.
Habitualmente, o que acontece nestas circunstâncias
é o professor passar a um aluno seguinte até encontrar
algum que tenha feito o “TPC” e a partir daí continuar a
sua aula. Este tipo de alunos são categorizados como
“calados”, mas até correspondem a alunos que os
professores gostam de ter nas suas turmas porque não
são indisciplinados e até estão com atenção e obtêm
positiva nos testes de avaliação. Só que, embora estes
alunos até adquiram alguns conhecimentos curriculares,
no plano do seu desenvolvimento pessoal e social pouco
acontece, continuando “calados” nos anos lectivos seguintes.
Mr. Keeting revela ter uma sensibilidade particular
para esta situação (“Mr. Anderson pensa que tudo
dentro de si é inútil e embaraçoso. Engana-se, tem algo
dentro de si com grande valor”), incentivando este aluno
para deixar emergir o seu potencial criativo ao levá-lo a
ser capaz de criar um poema espontaneamente na sala de
aula que surpreendeu o próprio aluno e os seus colegas.
Além disso, outra particularidade, nesta situação, é
o facto de Mr. Keeting no final ir junto deste aluno
dizendo-lhe ao ouvido “nunca te esqueças deste momento”.
Fundamentalmente, o que todas as pessoas
procuram são experiências de vida positivas. Também os
alunos apresentam este objectivo, devendo o professor
tentar proporcionar-lhes este tipo de vivências, pois estas
também representam experiências gratificantes para os
próprios professores.
O filme “O professor” apresenta a particularidade de
traduzir uma situação cada vez mais frequente, aquela
em que o professor inicia esta actividade profissional de
forma transitória e com pouca motivação. É o caso de
Mr. Holland que foi ser professor porque pensava que
esta actividade lhe permitia ter mais “tempo livre” para
escrever as suas músicas, conforme refere logo no início
a um colega professor. A desmotivação de Mr. Holland é
bem manifesta na relação distante que mantém com os
alunos, estando apenas preocupado em cumprir o
programa e manifestando-se “irritado” quando os alunos
apresentam baixos resultados nos testes. Inclusivamente,
refere à sua mulher que quando era aluno queria estar
noutro sítio qualquer, mas nunca pensou que os professores
sentissem o mesmo, acrescentando inclusivamente
o seguinte: “Odei-o ensinar. Ninguém consegue
ensinar aqueles alunos”. Até que resolve começar a ir ao
encontro dos interesses dos alunos, verificando que estes
e ele próprio gostaram mais desta aula do que das
anteriores. Faz então esta opção por tornar as aulas mais
interessantes para os alunos e para si próprio, constituindo
um bom exemplo de uma atitude fundamental a
tomar por qualquer professor, a de tentar tornar as
experiências ocorridas no âmbito do processo de ensinoaprendizagem
tão satisfatórias quanto possível e de as
vivenciar com alegria. E parece valer a pena, pois no
final do filme, quando lhe é feita uma festa surpresa de
despedida, são significativas as palavras de uma ex-aluna
sua: “Mr. Holland teve uma profunda influência na
minha vida. Em muitas vidas. Contudo sinto que ele
considera grande parte da sua vida disperdiçada. Ele
estava sempre a trabalhar na sua sinfonia. Ela ia torná-lo
famoso, rico. Provavelmente as duas coisas. Mas Mr.
Holland não está rico. E não é famoso. Pelo menos fora
da nossa pequena cidade. Portanto seria natural ele
considerar-se um falhado. Mas estaria enganado. Porque
eu acho que ele alcançou um êxito muito superior à
riqueza e fama. Olhe à sua volta. Não há uma vida nesta
sala que não tenha influenciado. E cada um de nós é uma
pessoa melhor graças a si. Nós somos a sua sinfonia Mr.
Holland. Nós somos as melodias e as notas da sua obra.
Nós somos a música da sua vida”.

Por seu turno, o filme “Mentes perigosas” pretende
ilustrar a realidade cada vez mais actual das nossas
escolas, com turmas constituídas por alunos desinteressados
e indisciplinados. Esta situação provoca um
“choque com a realidade” da Mrs. Louene, professora
em início de carreira que nunca pensou vir a encontrar
uma turma com estas características. Face à situação
geral de indisciplina dos alunos evidenciada na primeira
aula, esta professora tenta utilizar uma estratégia que
havia lido num livro sobre formas de lidar com a
indisciplina, concretamente escrever o nome do aluno
mais indisciplinado no quadro. No entanto, esta estratégia
não resultou, ficando Mrs. Louene desesperada
com o facto de não conseguir controlar a situação.
Convém salientar que o problema não está nos livros,
mas no aproveitamento que deles é feito, pois as
sugestões apresentadas para a resolução de situaçõesproblema
devem ser encaradas como meras hipóteses de
solução e não como receitas universais. Isto é, qualquer
estratégia para resultar tem que ser integrada no estilo
pessoal do professor que a vai utilizar e na situação em
causa, tendo em conta os alunos envolvidos.
Nesse sentido, o aproveitamento da experiência e das
qualidades pessoais por cada professor é fundamental
para gerir situações de indisciplina. No caso de Mrs.
Louene ela tenta chamar a atenção dos alunos ou criar
laços de identificação com eles indo ao encontro dos seus
interesses, ao salientar o facto de já ter sido fuzileira e de
os alunos também poderem vir a ser bons fuzileiros,
sendo a partir daquele momento cada um deles um
aspirante. Inclusivamente, refere aos alunos que “a partir
deste momento todos têm 20 valores, só tendo que se
esforçar para manter a nota”. Este discurso vai levar estes
alunos a entender o sentido da escola de forma completamente
diferente, voltando a acreditar na possibilidade
de obter sucesso escolar e, logo, a apresentar
comportamentos mais adequados para que a aprendizagem
pudesse ocorrer.
A tentativa de ir ao encontro dos interesses, vivências
e linguagem dos alunos também é evidente nos
poemas que começa por analisar com eles. Esta é uma
estratégia que muitos professores, sobretudo de português,
poderiam utilizar na actualidade, aproveitando as
letras de algumas músicas de que os alunos gostam, em
vez de rejeitarem à partida o interesse destas músicas,
porque “é só barulho”. Este ir ao encontro dos interesses
dos alunos é fundamental para que o professor consiga
fazer com que os alunos se interessem pelas matérias que
efectivamente pretende que eles aprendam. Concretamente,
Mrs. Louene procura levar os alunos a fazerem
essa transferência de interesses através do concurso
“Dylan-Dylan”. Os vencedores deste concurso teriam
uma recompensa. Este é outro aspecto particularmente
relevante nas estratégias para motivação dos alunos
evidenciadas neste filme. Isto é, a utilização de recompensas
pode resultar numa fase inicial quando os alunos
apresentam uma motivação muito baixa para as actividades
escolares. No entanto, quando os alunos começam
a envolver-se nestas actividades, as estratégias
deverão ser diferentes, incentivando a sua motivação
intrínseca. Foi o que Mrs. Louene fez, pois numa situação
seguinte em que sugeriu aos alunos a realização de
uma tarefa escolar, quando um aluno lhe perguntou qual
era o prémio por realizarem essa actividade, ela respondeu:
“aprenderem a ler e compreenderem é o
prémio”. Depois fundamenta esta posição utilizando um
exemplo e uma linguagem compreensível para os alunos:
o cérebro é como um músculo e, tal como eles correrão
melhor e mais depressa se treinarem a corrida, também
poderão usar melhor o pensamento se aprenderem as
matérias escolares (“Cada nova ideia constrói um novo
músculo. São esses músculos que vos podem tornar
poderosos. São as vossas armas. E neste mundo inseguro
têm que andar armados”). Além disso, acentua o facto
de os alunos terem que ir à escola e já que assim é devem
aproveitar para aprender (“Tentem. De qualquer forma
já estão aqui. Se no fim do período não forem mais
rápidos, fortes e espertos não perderam nada. Mas se isso
acontecer vão ser mais díficeis de derrubar”). É também
particularmente interessante a forma como Mrs. Louene
contacta os pais de um aluno suspenso, procurando-os
para evidenciar o potencial e as qualidades positivas
do seu filho, contribuindo para a criação de “laços”
afectivos também com as famílias. Assim, também sobre
a forma de abordar e chamar as famílias a participar no
processo de educação e de desenvolvimento dos seus
filhos, pela positiva e em colaboração e sintonia com os
professores, Mrs. Louene constitui um bom exemplo.
Em conjunto, estes três filmes ilustram que as aulas
tanto podem ser “chatas” ou “uma perda de tempo”,
como interessantes, evidenciando a importância da motivação
dos professores para o seu próprio sucesso e
realização profissional e também para a motivação dos
alunos. No entanto, não há receitas, devendo cada professor
descobrir o seu caminho, tendo em conta as suas
Estratégias para motivar os alunos
experiência e qualidades pessoais, “fazendo uso de si
mesmo como instrumento” (COMBS, BLUME, NEWMAN
e WASS, 1979).

Os professores são diferentes e devem aceitar essa
diferença com naturalidade, tentando aproveitá-la na sua
prática pedagógica. As diferenças manifestam-se na
própria interpretação dos acontecimentos, quanto mais
na forma de actuação. Por exemplo, face à mesma
situação, “um aluno ri na sala de aula”, diferentes
professores podem apresentar interpretações diferentes
como sejam: “aquele aluno está a gozar comigo, vou
repreendê-lo”; “aquele aluno está satisfeito, deve ter
entendido a explicação que estou a dar”; “alguém deve
ter-lhe contado alguma coisa engraçada”; “aquele aluno
ri sem razão, deve ter algum problema psicológico”.
Não há um perfil universal de “bom professor”, tal
como não há um perfil de “líder universal”. Por exemplo,
o Modelo Situacional de Liderança, de Blanchard,
Zigarmi e Zigarmi (1986), considera que o estilo de
liderança mais adequado depende do grau de competência
e de motivação dos sujeitos que o líder pretende
influenciar. Neste sentido, distingue entre quatro estilos
de liderança: direcção, orientação, apoio e delegação. Na
sala de aula, a adequação e eficácia do estilo a adoptar
pelo professor também depende muito dos alunos e,
inclusivamente, diferentes alunos preferem diferentes
estilos de professor. Numa investigação realizada por
Villa (1985), em que distinguiu sete tipos de professor –
o didáctico (pela clareza da explicação), o organizado
(pela metodologia utilizada), o dominante (pela exigência),
o fisico (pela aparência), o cordial (pelo humor),
o afectivo (pela atenção personalizada) e o entusiasta
(pela motivação expressa) – verificou-se que todos
os tipos são considerados importantes pelos alunos,
consoante o estilo do próprio aluno, o seu nível de ensino
e as situações concretas. Inclusivamente, o mesmo aluno
pode preferir um estilo de professor num dado momento
e outro estilo noutro momento do mesmo ano lectivo.
Por exemplo, os estilos cordial e afectivo podem ser mais
valorizados no início do ano lectivo, enquanto os estilos
didáctico e organizado podem ser preferidos mais no
final do ano lectivo ou na proximidade de situações de
avaliação de conhecimentos.
O que é importante é o professor ter uma perspectiva
global das hipóteses de trabalho ou estratégias possíveis
para poder decidir por aquela que considere mais adequada
num determinado momento, em sintonia com o
seu estilo pessoal e as situações com que se confronta.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

ENSINAR A QUEM NÃO QUER


Ensinar a quem não quer é uma das missões impossíveis do professor. Porque o professor não pode aprender em vez do aluno. Porque o verbo aprender não suporta o imperativo. Porque aprender é um acto que pressupõe a vontade. Que fazer, então, num tempo em que muitos alunos parecem ter “perdido” a vontade de aprender? Enuncio, de seguida, um roteiro possível para acender a vontade, organizado segundo diversas variáveis, procurando sistematizar o que se "sabe" sobre a arte e a ciência da motivação e da implicação dos alunos nas tarefas escolares:

A. Currículo e programas
1. Ajustar o currículo aos contextos sociais e culturais locais
2. Relacionar os conteúdos com os contextos de vida dos alunos
3. Evidenciar a empregabilidade social e pessoal dos conhecimentos
4. Relevar a importância das aprendizagens emocionais, relacionais, cognitivas para a vida
5. Colocar o currículo e o programa ao serviço das aprendizagens dos alunos
6. Incorporar as inteligências múltiplas no desenvolvimento do currículo

B. Missão do professor
7. Criar oportunidades de aprendizagem para cada aluno
8. Recriar o currículo e o programa em função dos alunos
9. Descobrir os “detonadores” da motivação intrínseca de cada aluno
10. Usar o programa para que os alunos aprendam
11. Usar a avaliação para que os alunos aprendam mais
C. Agrupamento de alunos
12. Flexibilizar o agrupamento de alunos (grupos temporários de nível, grupos de interesse similares, grupos heterogéneos)

D. Gestão do tempo
13. Adequar o tempo às necessidades de cada aluno (no campo das aprendizagens, no campo da avaliação…)

E. Cumprimento de regras
14. Clarificar as regras básicas da convivência escolar
15. Implicar os alunos na construção dessas regras
16. Difundir massivamente essas regras para que sejam conhecidas e interiorizadas
17. Tornar claro que as acções dos alunos têm consequências e que ninguém é inimputável
18. Adoptar o princípio da tolerância zero em relação à violência
19. Construir, afirmar e valorizar a autoridade que preza o outro

F. Organização e gestão do espaço
20. Diversificar a disposição do espaço em função da actividade a desenvolver (mesas em filas, em U, em círculo, em pequenos grupos, face a face…)
21. Circular pelo espaço, gerir múltiplas interacções, observar o trabalho dos alunos em contexto de sala de aula (o professor como organizador de situações de aprendizagem)

G. Métodos e técnicas de ensino
22. Diversificar os métodos de ensino (dentro de cada aula, de aula para aula): breves exposições, trabalho de pares, trabalho individual, trabalho de projecto, breves debates, trabalho de pesquisa, …)
23. Recorrer pontualmente à tutoria entre alunos
24. Criar oportunidades para que os alunos escrevam a sua vida (e a partilham quando quiserem)
25. Organizar situações de aprendizagens dentro e fora da sala de aula que sejam distintas e situadas na “zona de desenvolvimento próximo” de cada aluno (suficientemente exigente, não fácil, mas não situada numa “zona” que o aluno não possa realizar)
26. Ligar o ensino à vida

H. Relação pedagógica
27. Gostar do outro (gostar das pessoas que moram nos alunos)
28. Escutar os alunos
29. Acreditar que todos os alunos podem aprender
30. Criar oportunidades para que cada aluno tenha (pequenos) sucesso
31. Celebrar os pequenos sucessos
32. Dar feedback frequente e orientador
33. Conhecer o percurso escolar de cada aluno
34. Conhecer o contexto de vida dos alunos
35. Inspirar os alunos para que se auto-motivem
36. Gostar da matéria que lecciona
37. Respeitar as singularidades e as diferenças
38. Exigir na medida máxima do possível

I. Relação escola-família
39. Usar o “TPC” para implicar a família na valorização da escola
40. Contratualizar as regras básicas da escolarização
41. Convocar a família (também pelos bons motivos)
J. Modalidades de avaliação
42. Privilegiar a avaliação formativa e formadora ao serviço das aprendizagens
43. Usar a avaliação sumativa e a classificação para estimular os alunos
44. Encontrar sempre no que aluno realiza algo que possa ser valorizado

K. Instrumentos de avaliação
45. Diversificar os instrumentos de avaliação (prova oral, prova experimental, prova escrita, projectos de diversa natureza…)
46. Reconhecer que o uso predominante dos testes escritos cria diversas injustiças escolares e gera insucesso nos alunos menos competentes nesta área.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A revolução digital na escola


E a escola? E os professores e educadores? Já o afirmámos variadíssimas vezes: vivemos um tempo que pretende reconfigurar a sociedade e a escola, atribuindo-lhe um novo formato, centrado em renovadas formas de receber e transmitir a informação. Isto implica uma busca permanente do conhecimento disponível e das suas fontes de informação. Para alcançar tal objectivo, imputa-se à escola mais uma responsabilidade: a de contribuir significativamente para que se atinja o que se convencionou designar por analfabetismo digital zero.

Para tal, a educação para a utilização das novas tecnologias digitais precisa ser planeada, com base no conhecimento pedagógico, desde o jardim-de-infância. Sem preconceitos ou desnecessárias coacções, sem substituir atabalhoadamente o analógico pelo digital, mas sim reforçando a capacidade cognitiva dos alunos e guiando a descoberta de novos horizontes. Formando os professores e equipando as escolas. Este movimento deve ser capaz de preparar os jovens para serem leitores críticos e escritores aptos a desenvolver essas competências em qualquer dos meios suportados pelas diferentes tecnologias.

Os professores da designada geração digital também já estão a chegar às escolas. E, com eles, as mudanças pedagógicas vão ser mais rápidas, porque baseadas no domínio de novas competências, na experiência e na forte motivação para o uso das novas tecnologias. A escola tradicional vai mudar. Desde logo necessitará de menos espaços físicos. Através da comunicação on-line, o contacto com o mundo exterior e com as outras escolas da aldeia global será permanente. Desta “conexão” de escolas globais – as connecting classrooms - resultarão aprendizagens, também elas globais, e em simultâneo, proporcionadas pelos vários docentes globalizantes, porque globalizadores do conhecimento e da tutoria dos aprendentes.