segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os Professores e a Procura de uma Ética Profissional


Em boa hora este livro passa a poder circular pelo largo espaço público. Fruto de um trabalho de mestrado na Universidade Católica Portuguesa, esta obra identifica as pedras que podem alicerçar uma profissão socialmente mais reconhecida e traceja os caminhos para se construir uma imagem profissional simultaneamente mais consistente e eficaz.

Rastreando as memórias das marcas que fizeram a diferença, consolidamos um saber que não podemos ignorar. Os bons professores têm expectativas elevadas (e ajustadas) em relação às possibilidades de realização dos seus alunos; centram o ensino que ministram na compreensão das realidades, não se perdendo nas minudências teóricas, geralmente estéreis; dominam a matéria que leccionam porque se actualizam constantemente e não estão à espera que alguém providencie o conhecimento de que necessitam; gostam de ensinar, apreciam o contacto com as pessoas, confiam e acreditam na perfectibilidade do ser humano; têm consciência do seu inacabamento profissional e por isso procuram, e por isso fazem auto-crítica, e por isso aceitam as críticas de boa fé enunciadas; sabem que a sua actividade se centra mais no fazer aprender do que no ensinar, pois reconhecem o seu próprio insucesso se os seus alunos nada aprenderem (ainda que também saibam que não é o único responsável pelas aprendizagens e, no limite, pode até nem ter qualquer responsabilidade); são claros no enunciado das regras do jogo didáctico e avaliativo e fazem-nas cumprir com firmeza e justeza.

Os bons professores que fazem a diferença não precisam de ser super-homens ou super-mulheres. Basta-lhes possuir o sentido de humanidade e de compaixão. Basta-lhes recusar o estatuto de menoridade intelectual e agir como co-autores do seu próprio destino profissional. Basta-lhes reconhecerem a vantagem de trabalharem numa lógica de colaboração e serem membros de uma comunidade profissional aprendente. Mas este bastar é de uma grande complexidade e exigência ética.

Porque ser hoje professor é um grande desafio que implica não apenas o conhecimento, mas também a proximidade, o cuidado, o alento, a compaixão. O bom professor é, então, esse ser frágil que precisa do suporte de uma comunidade profissional que tem de ajudar a construir, esse ser disponível para construir humanidade nas relações pedagógicas e sociais, esse ser atento às vulnerabilidades do outro, esse ser que não desiste de inventar dias mais claros.

O livro que agora tem na mão foi escrito por alguém que ama a vida e o próximo. Por alguém que faz da gratidão um sentimento essencial da convivência. Por alguém que sabe por onde se pode começar a transformar a docência. Que seja fonte de inspiração para políticos e, sobretudo, para professores. Estou certo que o será. Para todos os que vêem na educação uma oportunidade de acender cada vez mais luz nas trevas que nos ameaçam.

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