terça-feira, 17 de março de 2009
CÉREBRO, BEM-ESTAR E APRENDIZAGEM
Bem-estar Emocional e Ambiente Seguro
De que forma estão as emoções dos alunos ligadas à memória e à aprendizagem? De que modo o stress e as emoções afectam a aprendizagem dos alunos?
Os professores podem estabelecer um ambiente na sala de aula e na escola que seja divertido e seguro e, como tal, mais compatível com o cérebro para a aprendizagem.
O Corpo, o Movimento e o Cérebro
Por que razão o oxigénio, a água, o sono, determinados alimentos e o movimento afectam os cérebros dos alunos e as suas aprendizagens? Os professores podem fazer adaptações nas suas salas de aula e ensinar técnicas e informar os pais sobre temas relacionados com a saúde a fim de ajudar as crianças a aprender.
Conteúdo relevante e as Opções dos AlunosPor que razão o cérebro recorda algumas informações e competências mais prontamente do que outras? Como, quando e porquê devemos oferecer opções aos alunos?
Os professores podem envolver emoções e relacionar a nova informação com um conhecimento prévio a fim de tornar a aprendizagem mais significativa para os alunos. Podem também aumentar a motivação e a memória e compatibilizar níveis de capacidade e estilos de aprendizagem oferecendo opções aos alunos. São fornecidas informações, estratégias práticas e exemplos de sala de aula numa aprendizagem baseada em projectos, inteligências múltiplas, estilos de aprendizagem, avaliações diferenciadas e no envolvimento dos alunos na tomada de decisões.
Tempo, Tempo e mais Tempo
Quais os três elementos de tempo que afectam, dramaticamente, o quando e o quão bem os alunos aprendem?
Os professores podem utilizar os três elementos de tempo (tempo para a execução, tempo para a compreensão e os períodos de aprendizagem oportunos na vida de uma criança) na sala de aula para aumentar a aprendizagem.
Enriquecimento para o CérebroSerá o enriquecimento apenas para crianças dotadas? Os professores podem elevar a aprendizagem de todos os alunos através da utilização de várias práticas de enriquecimento, desde o uso de música nas aulas até à exposição de boletins num quadro.
Avaliação e Feedback
Quais as formas de avaliação que são (ou não) compatíveis com o cérebro? Os professores podem fazer uso de formas de avaliação que ampliam o processo de aprendizagem. O feedback deve ser expedito, específico, de uma variedade de origens e incorporado no processo de aprendizagem.
ColaboraçãoComo e porquê aprendem os alunos, efectivamente, através da colaboração com outros, sejam adultos ou pares?
Para optimizar a aprendizagem na sala de aula, os professores podem aplicar o facto do cérebro humano ser um cérebro social.
À medida que os cientistas descobrem mais sobre o modo como o cérebro aprende, os educadores vão sendo libertados do balançar do pêndulo das práticas de instrução que vão e vêm. O conhecimento e a compreensão da investigação sobre a forma como o cérebro humano aprende permite aos educadores tomarem decisões informadas acerca do que constituem as melhores práticas nas nossas escolas e para as nossas crianças. A aprendizagem baseada no cérebro não é uma moda. A expressão “baseado no cérebro” pode até ter sido a nova e contagiante frase quatro ou cinco anos atrás. A expressão pode até estar a esvanecer-se na popularidade à medida que lemos estas linhas. Contudo, isso não significa que o ensino em concordância com o modo como o cérebro aprende esteja a passar de moda. Ao aprender ainda mais acerca das capacidades de aprendizagem do cérebro e das suas funções, os educadores continuarão a melhorar os seus métodos de ensino a fim de estabelecerem a correspondência com as novas descobertas. Na realidade, se ou quando o uso da expressão “baseado no cérebro” ou “compatível com o cérebro” cair em desuso deverá ser considerado como um sinal de sucesso. Poderá significar que ensinar com o cérebro em mente foi, finalmente, institucionalizado. Não necessitaremos de criar um slogan mobilizador para demonstrar que estamos a aplicar a biologia da aprendizagem em determinados locais ou circunstâncias porque a estaremos a aplicar em todos os momentos do nosso processo de ensino e de aprendizagem. A aprendizagem compatível com o cérebro possui uma base clínica e fisiológica e este conhecimento acaba por contribuir para ajudar os educadores a afastarem-se de inovações que vão estando em moda, mas que são ineficazes na prática.
Eric Jensen, O Cérebro, a Bioquímica e a Aprendizagem. Porto:ASA
segunda-feira, 9 de março de 2009
GESTÃO DA MOTIVAÇÃO
O que é que nos leva a agir? O estudo da motivação conduz à descoberta de modelos complexos e fascinantes. Todavia, neste domínio, nada é alcançado de modo definitivo, não existindo universalismo de teorias da motivação. O desenvolvimento da motivação não é nunca um processo estabilizado, necessita de um ajustamento e de uma adaptação permanente das práticas e das acções.
Motivar começa, em primeiro lugar, por não desmotivar, uma evidência que os dirigentes das organizações devem sobretudo ter em atenção. A acção sobre as diferentes alavancas da motivação pode gerar um círculo virtuoso que constitui um vector essencial de bom desempenho. A motivação e o bom desempenho reforçam este processo, alimentando-se mutuamente. A ética, a competência e o reconhecimento são os factores-chave deste reforço.
Num contexto de incerteza e de aceleração da mudança, convém colocar permanentemente a motivação no centro das práticas de direcção. Ora, esta dimensão fundamental da gestão dos recursos humanos está ainda insuficientemente desenvolvida no quadro da formação e da prática das equipas dirigentes. A gestão da motivação exige um conhecimento do ser humano para o qual as ciências da gestão não preparam suficientemente.
Motivar é antes de mais saber dar a cada um razões para agir. Elemento determinante do desenvolvimento humano, a motivação reforça a coerência da acção, o nível de desempenho e constitui um valor acrescentado simultaneamente para o indivíduo e para a organização. Não há bom desempenho no seio de uma organização sem uma motivação duradoura dos profissionais que lá trabalham. A gestão da motivação é sem dúvida uma das mais «antigas profissões do mundo», mas é também chamada uma nova função para se desenvolver no futuro.
Rubem Alves
sexta-feira, 6 de março de 2009
Importância do Autoconhecimento/da Atenção
Parar, Acalmar-se, Descansar e Curar-se
A meditação budista tem dois aspectos - shamatha e vipashyana. Existe uma tendência a enfatizar a importância da vipashyana ("olhar em profundidade"), uma vez que ela tem o potencial de nos proporcionar insight e nos libertar do sofrimento e das aflições. Mas a prática da shamatha ("cessação") é fundamental. Se não conseguirmos parar, o insight não chegará a nós.
Existe uma história zen sobre um homem e um cavalo. O cavalo está galopando rapidamente, e parece que o homem que cavalga se dirige a algum lugar importante. Outro homem, em pé ao lado da estrada, grita: "Para onde está indo?" e o homem a cavalo responde: "Não sei. Pergunte ao cavalo!" Esta é a nossa história. Estamos todos sobre um cavalo, não sabemos aonde vamos e não conseguimos parar. O cavalo é a força de nossos hábitos que nos puxa, e somos impotentes diante dela. Estamos sempre a correr, e isso já se tornou um hábito. Estamos acostumados a lutar o tempo todo, até mesmo durante o sono. Estamos em guerra com nós mesmos, e é fácil declarar guerra aos outros também.
Precisamos aprender a arte de fazer cessar - parar o nosso pensamento, a força de dos nossos hábitos, a nossa desatenção, bem como as emoções intensas que nos regem. Quando uma emoção nos assola, ela assemelha-se a uma tempestade, que leva consigo a nossa paz. Nós ligamos a TV e depois a desligamos, pegamos um livro e depois o deixamos de lado. O que podemos fazer para interromper este estado de agitação? Como podemos fazer cessar o medo, o desespero, a raiva e os desejos? É simples. Podemos fazer isso através da prática da respiração consciente, do caminhar consciente, do sorriso consciente e da contemplação profunda - para sermos capazes de compreender. Quando prestamos atenção e entramos em contacto com o momento presente, os frutos que colhemos são a compreensão, a aceitação, o amor e o desejo de aliviar o sofrimento e fazer brotar a alegria.
Mas a força do hábito costuma ser mais forte do que nossa vontade. Dizemos e fazemos coisas que não queremos e depois arrependemo-nos. Causamos sofrimento a nós mesmos e aos outros, e, de forma geral, produzimos grande quantidade de destruição. Podemos ter a firme intenção de nunca mais fazer isso, mas sempre acabamos fazendo de novo. Porquê? Porque a força do hábito acaba vencendo e levando-nos de roldão.
Precisamos da energia da atenção plena para perceber quando o hábito nos arrasta, e fazer cessar esse comportamento destrutivo. Com atenção plena, temos a capacidade de reconhecer a força do hábito a cada vez que ela se manifesta. "Alô força do hábito, sei que estás aí!" Nessa altura, se conseguirmos simplesmente sorrir, o hábito perderá grande parte de sua força. A atenção plena é a energia que nos permite reconhecer a força do hábito e impedi-la de nos dominar.
Por outro lado, o esquecimento ou a negligência é o oposto. Tomamos uma chávena de chá sem sequer perceber o que estamos fazendo. Sentamo-nos com a pessoa que amamos, mas não percebemos que a pessoa está ali. Andamos sem realmente estar andando.
Estamos sempre noutro lugar, pensando no passado ou no futuro. O cavalo dos nossos hábitos conduz-nos, e somos prisioneiros dele. Precisamos deter este cavalo e resgatar a nossa liberdade. Precisamos irradiar a luz da atenção plena em tudo o que fizermos, para que a escuridão do esquecimento desapareça. A primeira função da meditação - shamatha - é fazer parar.
A segunda função da shamatha é acalmar. Quando sofremos uma emoção forte, sabemos que talvez seja perigoso agir sob a sua influência, mas não temos força nem clareza suficientes para nos abstermos. Precisamos aprender a arte de respirar, de inspirar e expirar, parando tudo o que estamos fazendo e acalmando as nossas emoções. Precisamos aprender a nos tornar mais estáveis e firmes, como se fossemos um carvalho, e não nos deixar arrastar pela tempestade de um lado para outro. Buda ensinou uma variedade de técnicas para nos ajudar a acalmar corpo e mente, e considerar a situação presente em toda a sua profundidade. Essas técnicas podem ser resumidas em cinco estágios:
(1) Reconhecimento - se estamos zangados, dizemos "reconheço que a raiva está dentro de mim".
(2) Aceitação - quando estamos zangados, não negamos a raiva. Aceitamos aquilo que está presente em nós.
(3) Acolhimento - abraçamos a raiva como faz uma mãe com o filho que chora. A nossa atenção plena acolhe a emoção, e só isso já é capaz de acalmar a raiva e a nós mesmos.
(4) Olhar em profundidade - quando nos acalmamos o suficiente, conseguimos observar profundamente para entender o que provocou a raiva, ou seja, o que está fazendo o bebé chorar.
(5) Insight - o fruto do olhar profundo é a compreensão das causas e condições, tanto primárias quanto secundárias, que provocaram a raiva e fizeram o nosso bebé (interior) chorar. Talvez ele esteja com fome. Talvez o alfinete da fralda o esteja machucando. Talvez a nossa raiva tenha surgido quando um amigo nos falou em um tom ofensivo, mas de repente, lembramo-nos de que essa pessoa não está bem hoje porque o seu pai está muito doente. Continuamos a reflectir dessa forma até compreendermos a causa de nosso actual sofrimento. A compreensão nos dirá o que fazer ou não fazer para mudar a situação.
Depois de nos acalmarmos, a terceira função da shamatha é o repouso. Suponha que alguém nas margens de um rio joga uma pedra para o ar e a pedra cai no rio. A pedra afunda-se lentamente e chega ao fundo do rio sem esforço algum. Depois de a pedra ter chegado ao fundo do rio, ela descansa, deixando que a água passe por ela. Quando nos sentamos para meditar podemos permitir-nos repousar da mesma forma que essa pedra. Podemos deixar-nos afundar naturalmente, na posição sentada - repousando, sem fazer esforço. Temos que aprender a arte de repousar, permitindo que nosso corpo e nossa mente descansem. Se tivermos feridas no nosso corpo e na nossa mente, precisamos repousar para que elas possam por si só curar-se.
O acto de se acalmar produz o repouso, e o descanso é um pré-requisito para a cura. Quando os animais selvagens estão feridos, eles procuram um lugar escondido para se deitar, e descansam completamente por muitos dias. Não pensam em comida nem em mais nada. Apenas descansam, e com isso obtêm a cura de que precisam. Quando nós, seres humanos, ficamos doentes, preocupamo-nos durante todo o tempo. Procuramos médicos e remédios, mas não paramos. Mesmo quando vamos para a praia ou para as montanhas com a intenção de descansar, não chegamos realmente a repousar, e voltamos mais cansados do que partimos. Temos que aprender a repousar.
A posição deitada não é a única posição de descanso que existe. Podemos descansar muito bem durante meditações sentados ou caminhando. A meditação não deve ser um trabalho árduo. Simplesmente permita que o seu corpo e sua mente descansem, como o animal no mato. Não lute. Não há necessidade de fazer nada, nem realizar nada. Eu estou escrevendo um livro, mas não estou lutando. Estou descansando. Por favor, leiam este livro de uma forma alegre e relaxante. O Buda disse: "O meu Darma é a prática do não-fazer." Pratiquem de uma forma que não seja cansativa, mas que seja capaz de proporcionar descanso ao corpo, às emoções e à consciência. O nosso corpo e a nossa mente sabem curar-se a si mesmos, se lhes dermos uma oportunidade para isso.
Parar, acalmar-se e descansar são pré-requisitos para a cura. Se não conseguirmos parar, o nosso ritmo de destruição simplesmente vai prosseguindo. O mundo precisa imensamente de cura. Os indivíduos, comunidades e países estão cada vez mais necessitados de cura.
(Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh)
segunda-feira, 2 de março de 2009
Transformação de Sentimentos
"O erro, o fracasso, a derrota podem ser prejudiciais ou benéficos. O importante não são os factos, mas a forma como os enfrentamos. O mesmo fenómeno pode servir de estímulo a um, e a outro deixá-lo abatido. Há pessoas que aprendem e ficam mais fortes face a uma ruptura emocional. Outras, tornam-se amargas e cépticas.
Há que aprender uma arte muito importante na nossa vida pessoal e profissional: refiro-me à arte de saber transformar os sinais menos em sinais mais. Há que lidar com eles adequadamente. Há quem tenha, infelizmente, a habilidade contrária: da mínima coisa boa que lhes sucede retiram motivos de desalento.
Sem fracasso, sem dor, o ser humano nunca chegaria a ter consciência de si mesmo. Mas é preciso que a dor não destrua, mas que ensine e liberte."
Miguel Santos Guerra. Arqueologia dos sentimentos.
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