quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Universalidade e Diversidade das Emoções


“(…)Apesar do escasso conhecimento acumulado sobre os processos e a inteligência emocional em relação às actividades situadas na parte superior do cérebro, seria aberrante considerar que se pode viver à margem das emoções. Todavia, este foi o modelo escolhido pelos humanos desde os começos da história do pensamento, inclusivamente a partir da etapa “civilizada” que nasce nos tempos babilónicos, graças à invenção da escrita. Modelo esse que se prolongou até há menos de uma década. Daí que o século XX nos tenha deixado com a impressão “de uma falta de esplendor” que também está relacionada com o erro de se ter singularizado as emoções como a componente irracional e detestável do ser humano (…).
A sede oficial das emoções está no bairro primitivo do cérebro. Chama-se cérebro reptiliano porque já estava bem configurado nos precursores dos primeiros mamíferos: é um conjunto de estruturas nervosas conhecido como sistema límbico, que inclui o hipocampo, a circunvalação do corpo caloso, o tálamo anterior e uma zona em forma de amêndoa chamada amígdala. Esta é o principal intermediário das emoções. Sempre que uma pessoa reage a uma expressão facial hostil, a amígdala está a activar as primeiras vozes de alarme. Lesionar a amígdala é a forma mais segura de conseguir que uma pessoa fique sem capacidade emocional – é tão mau não saber controlar as próprias emoções como não ter nenhuma. Spock, a personagem extraterrestre de orelhas pontiagudas da série Star Trek, era muito mais inteligente do que os humanos, mas carecia de emoções. Em dado momento do passado, os vulcanianos, a etnia a que Spock pertencia, haviam prescindindo dos vestígios primitivos das suas origens animais e, libertos para sempre das paixões, haviam alcançado um grau muito superior de racionalidade.
(…) A ciência hoje sugere que um organismo inteligente sem emoções estaria, simplesmente, incapacitado de evoluir e não seria mais, mas sim menos inteligente que nós. Se no decurso da evolução, as vantagens de se ter emoções não tivesse superado as desvantagens de não contar com elas, os seres emocionais nunca teriam evoluído. Se hoje continuamos a ter emoções é porque no passado elas devem ter ajudado os nossos antepassados a sobreviver e a perpetuar-se.
(…) Em todos os tempos e lugares, os seres humanos partilharam o mesmo reportório emocional básico. Esta universalidade das emoções básicas supõe um argumento adicional a favor da sua natureza biológica.
(…) Em termos científicos, António Damásio, neurocientista luso-americano, afirma, da sua cátedra de Neurologia da Iowa State University, nos Estados Unidos, que “sem emoção não há projecto que valha”. Tudo começa com uma emoção. Intuíram-no já há meio século alguns homens de acção e a ciência corrobora-o agora. Mas a descoberta mais recente e revolucionária devemo-la a cientistas como Dylan Evans, da Faculdade de Informática de Bristol, ao demonstrar que as decisões - todas as decisões – são emocionais. Qual o desenvolvimento normal de uma decisão? No início há uma emoção. Depois, um processo de cálculo é levado a cabo no qual se vai ponderando toda a informação disponível. Há uma proliferação de argumentos a favor e contra, a lógica da razão não pára de impor-se. Felizmente, no final reaparecem, como uma tábua de salvação, as emoções. Se dantes não sabíamos para que servem as emoções, agora verificamos que sem elas nunca tomaríamos decisões”.
Eduardo PUNSET (2008). Viagem à Felicidade, as novas chaves científicas, Lisboa: D. Quixote.

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