sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

DA PEDAGOGIA


Não existe pedagogia sem alunos, sem pessoas, sem saber científico. Porque a pedagogia tem de ter referentes, sujeitos, objectos. A pedagogia faz-se da relação entre os saberes, os alunos, o professor. Não existe pedagogia sem gostar dos alunos concretos, sem acreditar na per¬fectibilidade do ser humano, sem a com¬paixão. Não existe pedagogia sem o rigor da exi¬gência e a distensão, sem a seriedade e o sorriso, sem a diversidade que com¬bata o alheamento e o tédio.
Não existe pedagogia sem implicação, sem o sentido comunitário, sem a dádiva, a gratuitidade.
E não havendo pedagogia não há ensino (ou dificilmente há); e sem ensino não haverá aprendizagem. E sem aprendi¬zagem não há crescimento. E sem cres¬cimento não há a profissão docente, não há escola.
E para haver pedagogia (e ensino e apren¬dizagem e profissão e escola) tem de haver um esforço de construção de comuni¬dades profissionais, tem de haver a coo¬peração, a procura colectiva das respos¬tas para os infindáveis problemas.
Esta é a pedra angular da sobrevivên¬cia. Os meus leitores já o sentem, já o sabem. Falta agora alar¬gar o círculo dos que o sentem e sabem.
José Matias Alves

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Aprendizagem Activa


Estratégias para Aprendizagem Activa

Perguntas
Comece a sua aula colocando uma pergunta fascinante. De facto, poderá escrevê-la no quadro ou afixá-la de uma outra forma, de maneira que os alunos possam lê-la e começar a reflecti-la antes da aula. Trate a questão durante a aula e sirva-se dela para uma discussão ou virar o assunto para temas semelhantes.
Reflexão sozinho, a dois, em conjunto
Dê uma tarefa aos alunos (por exemplo, perguntas para responder, problema para resolver). Peça-lhes que trabalhem sozinhos entre dois a cinco minutos (reflexão sozinho). De seguida, peça-lhes para debaterem as suas ideias com um parceiro, geralmente o aluno sentado ao lado, durante três a cinco minutos (reflexão a dois). Enfim, peça a algumas equipas para exporem as ideias ao grupo (reflexão em conjunto). Esta técnica foi utilizada com grupos de uma dezena a uma centena de alunos.
Pausa na aula magistral
È importante fazer uma pausa todos os 15 minutos numa aula magistral para dar uma oportunidade aos alunos de completar os apontamentos, de aperfeiçoar os apontamentos que tomaram até ao momento, de consultar os colegas da turma e de colocar perguntas.
Perguntas de exames redigidas pelos alunos
Reúne os alunos por grupos e solicite que reparem (em rascunho) perguntas de exames. Esta técnica pode ser utilizar para revisões ou para preparar o exame real. Esta actividade dá a oportunidade de tratar o material da aula de forma dinâmica, de rever a matéria para o exame, preparar o exame e perceber de uma forma mais adequada as dificuldades na redacção de perguntas de exames concretos e válidos.
Apresentação de um jornal
Solicite aos alunos que leiam um jornal e relatem pelos menos duas vezes por semana o que aprenderem. Podem fazê-lo em papel ou informaticamente, na aula ou nos tempos livres. Pode recompensar os alunos pelos esforços dando-lhes uma nota ou simplesmente apresentando comentários construtivos e didácticos. De uma forma ou da outra, deve-se incentivar os alunos a reflectir pessoalmente acerca do que aprendem e acerca das ligações entre a aprendizagem e as suas vidas.
Esquemas conceptuais
Solicite aos alunos para criarem representações visuais do conteúdo da aula. Trata-se essencialmente de diagramas que mostram as ligações mentais entre uma ideia ou um conceito principal e de outras ideias ou conceitos que os alunos aprenderam. Uma das formas de criar um esquema conceptual é de desenhar círculos que contêm os conceitos e de interligar os círculos com linhas (que podemos anotar). Os esquemas podem estarem criados individualmente ou em grupos, e podem ser apresentados, debatidos e criticados.
Interrogações formativas
Submeta os alunos a breves interrogações para que se possam avaliar. Não se deve dar notas por este tipo de interrogações; deverá debater respostas na aula com o intuito que os alunos possam avaliar a compreensão do conteúdo da aula.
Traduzido e adaptado da 5ª Edição do guia Enseigner à l'Université d'Ottawa: Guide pour les
professeurs et les assistants à l'enseignement.

PROFESSOR BUROCRATA



Numa perspectiva burocrática, o professor é concebido como agente do Estado, sujeito ao cumprimento do dever, entendido como adesão a normas e regras que garantem a boa ordem da sociedade e da escola. O seu primeiro dever é, não para com os alunos, mas para com o Estado, de que é servidor: é o dever de obediência (Formosinho, 1989:56). Neste se incluem os deveres de pontualidade e assiduidade e por eles se mede o bom professor: os deveres de cumprir os progra¬mas e de seguir as normas do Ministério enquadram os aspectos mais propriamente docentes; o dever de obedecer ao reitor, ao director ou ao presidente do órgão directivo ou executivo e de aceitar os cargos de gestão intermédia para que é nomeado ou eleito rege os aspectos mais administrativos.
O "bom" professor é um professor cumpridor das normas e dos regulamentos. Ele serve o Estado, respeita a ordem estabelecida. Não carece de grande espaço para a criatividade e a inovação (Cunha, 1993:34). Não é que deva ser banida a criatividade do professor. Ela deve, isso sim, servir a inovação decretada que ele deve cumprir, a inovação vinda de cima de que ele é simples executor. Assim, face a uma inovação decretada, o "bom" professor mudará de práticas e de atitudes. Como funcionário, ele tem o dever de obediência e a não mudança de práticas implica não cumprimento desse dever, sobretudo se se tratar de actos passíveis de controlo administrativo.
Esta filosofia de que no topo se inova e na base se executa é acompanhada por um conjunto de princípios complementares - o que está escrito é para cumprir, não é seguro que seja permitido fazer o que não está escrito, só é permitido fazer o que está regulamentado, 'que se podem sintetizar no princípio de o que não é explicitamente ordenado é proibido, e corta asas a qualquer vontade de inovar a partir das escolas e dos professores, mais socializados para acautelar-se de modo a não dar um passo em falso que para arriscar a procura de novas soluções para os problemas com que se deparam.

Formosinho, João, Machado, Joaquim, Oliveira-Formosinho, Júlia (2010). Formação, Desempenho e Avaliação de Professores. Mangualde: Pedago

CRENÇAS PEDAGÓGICAS


1. Acreditar (sem a crença na educabilidade do ser humano; sem a crença de que todos podem aprender; sem a crença de que podemos fazer melhor, não há mudanças positivas…; crer para ver; ver para crer)
2. Construir (o futuro não está todo escrito; somos chamados a construí-lo e a escrever algumas frases da história a vir…)
3. Exigir resultados e exigir meios (somos obrigados a apresentar resultados que contratualizamos; mas é também obrigatório a disponibilização de meios…)
4. Definir objectivos SMART (isto é, específicos, mensuráveis, atingíveis, realistas, temporizáveis, na esfera organizacional e pedagógica)
5. Reconhecer e valorizar as pequenas acções, gestos, vitórias (porque muitas vezes os entraves situam-se ao nível do auto-conceito, da auto-estima…)
6. Reconhecer a importância do obstáculo e dos desafios para a gestão das aprendizagens (porque aprender é ultrapassar obstáculos e vencer desafios…)
7. Olhar e praticar a avaliação como uma entrada na renovação do modelo didáctico (a avaliação tem um largo poder na regulação do trabalho e na implicação dos alunos…)
8. Pensar e gerir o tempo de forma flexível e exigente (os tempos de permanências nos diferentes grupos…)
9. Construir o triângulo dos actores centrais: alunos, professores, pais (numa lógica de partilha de responsabilidade…)
10. Ligar o saber ao sabor (porque o saber desconectado das pessoas e da vida tende a ser desprezado…)
11. Instituir uma cultura de exigência e responsabilidade (como condição sine qua non de saída da mediocridade…)