domingo, 31 de maio de 2009

HISTERIA


Formada a partir do substantivo grego hystera ‘útero’, designa uma doença que, a princípio, se julgava acometer apenas as pessoas que possuem aquele órgão, ou seja, as mulheres. Segundo Houaiss, esta palavra foi atestada pela primeira vez em 1840, no Compêndio de Patologia da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Acreditava-se, pois, desde a Antiguidade, que esta neurose tinha origem em problemas do útero resultantes da falta de actividade do órgão – sobretudo entre virgens de idade avançada e entre viúvas muito jovens. Esta ideia, errada, continua a fazer parte da crença popular que, maldosamente, associa a histeria à insatisfação sexual. Mas, na verdade, trata-se de uma doença mental que também pode afectar os homens e que não tem como causa principal problemas de cariz sexual. Consiste numa alteração que não permite ao paciente dominar actos nem emoções. Os sintomas que, normalmente, lhe estão associados são a ansiedade, a perda de memória, convulsões e simulação de doenças. O termo passou a ser usado, correntemente, para indicar procedimentos exagerados, que podem resultar não só de um estado de excitação desmesurada, como também de temperamento volúvel e desequilibrado, sobretudo quando se encontra sob a influência de um susto, de uma contrariedade ou de uma emoção mais forte. Em termos históricos, a frequência dos ataques espalhafatosos de histeria foi variando: comum na Idade Média e ainda mais durante o Romantismo e os finais do século XIX, hoje em dia, é menos corrente e verifica-se, sobretudo, nos meios incultos. Talvez devido à ideia antiga da relação da doença com o útero, fala-se, ainda hoje, mais em mulheres histéricas do que em homens – mas, durante as duas Grandes Guerras, foram muitos os soldados que tiveram reacções de índole histérica, nomeadamente através da manifestação da vontade de contrair uma doença como forma de evitar situações de perigo.
E, facilmente, nos vem à memória Fernando Pessoa, que afirmou, numa carta a Casais Monteiro sobre a génese dos seus heterónimos, ser senhor de um carácter histérico. Cita-se, em seguida, o passo, onde Pessoa discorre sobre o tema, porque nele se comprova muito do que afirmámos atrás: “Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histeroneurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenómenos de abulia que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenómenos – felizmente para mim e para outros – mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contacto com outros; fazem explosão para dentro e vivo-os eu a sós comigo. Se eu fosse mulher – na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas – cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem – e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais: assim tudo acaba em silêncio e poesia.”

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Papel das Emoções no Mundo Empresarial


As emoções relativas ao reconhecimento e pertença a um grupo são vitais e influenciam o modo de vida da organização. Em todas as sociedades humanas, os momentos importantes da vida dos indivíduos são celebrados: nascimento, casamento, aniversário, falecimento... Os rituais lançam uma ponte entre o presente e o passado, estabelecem uma continuidade. São actividades organizadas e codificadas tendo uma função de identificação e de comunicação indispensável à vida social.
Do mesmo modo, a celebração dos acontecimentos profissionais: recrutamento, promoção, sucesso, partida... marcam o ritmo da vida da organização e reforçam o sentimento de reconhecimento e de pertença dos seus membros. Segundo o caso, os rituais de iniciação, de integração, de promoção ou de ruptura são mais ou menos formalizados: «lugar de acolhimento ou de despedida», cerimónias de votos ou de entrega de medalhas, seminários de integração, team-buildings ou acções de formação.
O dirigente deve ter consciência que as necessidades de reconhecimento e de gratificação, assim como a busca de sinais emblemáticos são permanentes. O elogio e o reconhecimento dos méritos reforçam ao mesmo tempo o sentimento de importância de cada indivíduo em relação à organização e a confiança em si mesmo. Para além disso, a importância dos rituais de sucesso ou de ruptura, as recompensas sócio-simbólicas de prestígio ou de estima são importantes. A memória emocional desempenha um papel importante no processo de adaptação e de evolução profissional.
As emoções de base de todo o ser humano encontram-se naturalmente no seio da vida das organizações. Qualquer que seja o tipo de emoção, verifica-se o fenómeno de «sentimento comum», isto é, propensão para evocar e partilhar colectivamente as emoções. A verbalização das emoções, quer sejam positivas ou negativas, tem um efeito de distanciação e permite encontrar um rumo para o que é sentido.
Considerou-se, durante muito tempo, que as emoções não tinham lugar num ambiente profissional. Hoje as organizações de sucesso são as que sabem capitalizar a emoção e afirmar sem complexo os seus valores de referência.

sábado, 23 de maio de 2009

REINTRODUZIR O EMOCIONAL


«É a razão que faz o homem mas é a emoção que o conduz.» ROUSSEAU

Motivar é antes de tudo comover e transmitir uma emoção. Na «escala de Richter» da motivação, a emoção desempenha um papel chave e constitui um elemento essencial para preservar a dinâmica motivacional. Etimologicamente, os termos de motivação e de emoção[1] estão intimamente ligados, contudo a associação destas duas noções é ainda uma «terra incógnita».
Reintroduzir o parâmetro afectivo no seio das organizações constitui hoje um verdadeiro desafio. Se o emocional é omnipresente, a invocação da dimensão afectiva continua muitas vezes assunto tabu. O racionalismo envolvente oculta o papel e o lugar das emoções, esquecendo que não há empenhamento nem verdadeira decisão sem impacto emocional.

[1] Do latim «movere»: mover-se e comover-se.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Edgar Morin - Novo Modelo de Escola com vocação mais generalista


O filósofo e sociólogo Edgar Morin defende uma "reforma radical" do modelo de ensino nas universidades e escolas, salientando a necessidade de passar da actual 'hiperespecialização' para uma aprendizagem que "integre as várias áreas do conhecimento".
Edgar Morin, considerado um dos maiores pensadores vivos, defende que apenas com esta mudança de paradigma no ensino as pessoas serão "capazes de compreender e enfrentar os problemas fundamentais da humanidade, cada vez mais complexos e globais".
Em entrevista à Agência Lusa antes da sua vinda a Lisboa para participar num colóquio promovido sexta-feira pelo Instituto Piaget sobre os problemas estruturais dos actuais modelos de ensino, o filósofo francês considera que o modelo actual leva a "negligenciar a formação integral e não prepara os alunos para mais tarde enfrentarem o imprevisto e a mudança".
"Temos a necessidade de reformar radicalmente o actual modelo de ensino nas universidades e escolas secundárias. Porquê? Porque actualmente o conhecimento está desintegrado em fragmentos disjuntos no interior das disciplinas, que não estão interligadas entre si e entre as quais não existe diálogo", sublinha.
O filósofo, de 88 anos, critica, por exemplo, que nas escolas e universidades "não exista um ensino sobre o próprio saber", ou seja, sobre "os enganos, ilusões e erros que partem do próprio conhecimento", defendendo a necessidade de criar "cursos de conhecimento sobre o próprio conhecimento".
O autor de "Os Sete saberes para a Educação do Futuro, Educar para a Era Planetária" lamenta, igualmente, que a "condição humana está totalmente ausente" do ensino: "Perguntas como 'o que significa ser humano?' não são ensinadas", critica.
Por outro lado, Morin acredita que a "excessiva especialização" no ensino e nas profissões produz "um conhecimento incapaz de gerar uma visão global da realidade", uma ‘inteligência cega’".
"Conhecer apenas fragmentos desagregados da realidade faz de nós cegos e impede-nos de enfrentar e compreender problemas fundamentais do nosso mundo enquanto humanos e cidadãos, e isto é uma ameaça para a nossa sobrevivência", defende.
"O que proponho é fornecer [aos alunos] as ferramentas de conhecimento para serem capazes de ligar os saberes dispersos", explica.
Sobre a escolha de área que os alunos portugueses têm de fazer no 10º ano, Edgar Morin é peremptório: "Não concordo. Antes de escolherem uma especialização, todos deveriam ter, durante um ou dois anos, cadeiras comuns de cultura geral", em que "devem ser abordados problemas fundamentais do conhecimento, da racionalidade, simplicidade, complexidade e os problemas fundamentais da civilização actual", precisa.
"Só depois de aprenderem a desenvolver as capacidades mentais para atacar os problemas gerais é que deveriam poder escolher o que querem seguir".
Isto porque, garante Morin, "está demonstrado que a capacidade de tratar bem os problemas gerais favorece a resolução de problemas específicos", lembrando que a maioria dos grandes cientistas do século XX, como Einstein ou Heisenberg, "além de especialistas, tinham uma grande cultura filosófica e literária".
"Um bom cientista é alguém que procura ideias de outros campos do conhecimento para fecundar a sua disciplina", afirma, sublinhando que "todos os grandes descobrimentos se fazem nas fronteiras das disciplinas".
Garante também que "apesar de em muitas universidades norte-americanas existir maior flexibilidade no que toca ao modelo ensino", nos Estados Unidos existe o "mesmo problema que na Europa".

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Divagar estimula o cérebro


Contrariamente às ideias recebidas, divagar estimula o cérebro em vez de o tornar mais lento, permitindo assim resolver problemas complexos, segundo defende um novo estudo.
Esta investigação, divulgada no semanário científico norte-americano «Processos da Academia Nacional das Ciências», mostra que, quando divagamos, aumenta a actividade de várias regiões do nosso cérebro.
Mas o mais espantoso, é que as partes que permitem resolver problemas complexos conhecem uma actividade intensa quando uma pessoa pensa vagamente, quando se acreditava até agora que elas ficavam de sentinela, disse a professora Kalina Christoff, especialista do cérebro e principal autora do estudo.
O estudo realizado com imagens obtidas através de ressonância magnética deixa também entender que "estar nas nuvens" favorece uma maior actividade do cérebro do que quando uma pessoa se concentra para cumprir uma tarefa rotineira, acrescenta Christoff, directora do Laboratório de Ciências Neurológicas da Universidade da Columbia Britânica (UBC) no ocidente canadiano.
"As pessoas que sonham acordadas não estão talvez tão concentradas quando executam uma tarefa mas puxam por mais recursos do seu cérebro", declarou. O estudo, segundo ela, vai forçar várias pessoas a rever as suas percepções. "Habituámo-nos à ideia de que divagar não é uma coisa boa, quando é precisamente o contrário", conclui.
O ser humano passa um terço do seu tempo a divagar quando está desperto: "É uma grande parte das nossas vidas mas isso foi amplamente ignorado pela ciência".

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Espírito de Conquista e Espírito de Cooperação


O Homem é ainda hoje fortemente influenciado pelas suas origens e obedece muito às regras que prevaleciam antigamente no seio dos seus longínquos antepassados. Nele predominam dois grandes traços: o espírito de conquista e o espírito de cooperação.
O espírito de conquista faz do Homem um explorador que possui uma intensa necessidade de explorar, de conquistar e de dominar o mundo que o rodeia. Esta tendência hegemónica levou-o a alargar incessantemente os seus horizontes, a ocupar grandes espaços, a procurar dominar a natureza e o conjunto dos seres vivos. Este espírito de conquista exprime-se hoje sob formas múltiplas: espírito de empresa, necessidade de exploração, atracção pelo extremo.
O espírito de cooperação é um outro traço particular do ser humano. O carácter cooperativo da espécie desenvolveu-se ao mesmo tempo que o instinto de caçador. Antigamente, a cooperação entre os homens era necessária para organizar as expedições de caça que permitiam a sobrevivência da espécie. O sentido de fidelidade ao grupo nasceu no seio das reuniões de caça na qual a sobrevivência dependia da coesão do grupo.
Hoje, o trabalho substituiu a caça mas conservou um grande número das suas características fundamentais. A divisão do trabalho reforçou a interdependência e a necessária cooperação entre os homens. Todavia, se aquando da caça o acto de matar a presa era natural, no contexto do trabalho é transformada frequentemente em acto de domínio ou em ritual simbólico de levar à morte. O trabalho desempenha o papel de substituto, a necessidade de matar a presa evoluiu, mas a sua natureza persiste, exprimindo-se pela busca do poder. A necessidade de exercer um poder sobre os outros corresponde muitas vezes à perda de um poder sobre si próprio. Constitui uma das motivações de base do comportamento humano no seio das organizações. Deste ponto de vista, o ser humano ainda não cortou os laços que o ligam à pré-história.

domingo, 10 de maio de 2009

LIDAR COM O STRESS INFANTIL


E contudo, as crianças com dificuldades de aprendizagem podem aprender e progredir activamente. Há profissionais de sucesso que passaram, quando crianças, por este tipo de problemas. Se o problema for detectado precocemente, a ajuda pode ser maior ainda. Eis algumas das actuações dos pais, destinadas a evitar sentimentos de insucesso e de stress, aplicáveis, aliás, a outros problemas escolares:
- Apoiar com carinho e manifestações de afecto que compensem a autodesvalorização da criança. Dedicar-lhe tempo.
- Estimular e realçar os seus pontos fortes (p.e. desporto, jogos, aptidões e destrezas manuais, etc.), competências e interesses. Servir-se desses aspectos para compensar as suas limitações no âmbito escolar.
- Mostrar à criança que a aceitamos tal como é, e realçar o seu progresso noutras áreas, o seu desenvolvimento humano.
- Ter para com a criança expectativas e exigências realistas e que estejam ao seu alcance. Implicá-la em decisões sobre actividades da família, mostrando-lhe que é um membro “importante” da mesma, e que as suas opiniões são tidas em conta.
- Entusiasmá-la sempre, chamar-lhe a atenção para os sucessos no campo escolar, transmitir-lhe optimismo e confiança em superar as suas dificuldades.

COMO PREVENIR E ENFRENTAR O STRESS PROVOCADO PELO MEDO DO INSUCESSO
A ameaça de insucesso é o resultado da forma como o sujeito interpreta a situação. Por isso é que os procedimentos educativos se devem orientar no sentido de mudar esta interpretação, mas isso exige também mudanças nas circunstâncias do meio ambiente, pois se uma criança fracassa por não conseguir alcançar os requisitos de determinada tarefa, poucas possibilidades haverá de a convencer de que não fracassou de facto. Já Bandura estabelecia que a auto-eficácia se constrói, pelo que toca ao sujeito, a partir de duas fontes principais:
- A percepção do êxito. A forma mais infalível de conseguir que uma criança construa uma boa auto-eficácia é ajudá-la a ter sucesso nas tarefas que tem de realizar. A sensação de sucesso é cem por cento saudável.
- A persuasão verbal. Os educadores também influem na auto-eficácia da criança, pois com os seus comentários e apreciações mais ou menos explícitas, têm um impacto enorme no modo como a criança se vê a si mesma. Não é por acaso que a sabedoria popular nos apresenta as mães a dirigirem-se aos seus filhos mais pequenos nestes termos: “Que bom, que esperto e que lindo é o meu menino!”. Esta manifestação de apreço por parte dos pais é plenamente absorvida pela criança nestas primeiras idades.

Estratégias centradas nos educadores
Descrevemos, a seguir, algumas tácticas ao alcance de educadores, professores e pais destinadas a construir uma forte sensação de eficácia pessoal para combater a ansiedade face ao insucesso.
- Propor tarefas que estejam ao alcance da criança. Verificar se possui os requisitos necessários, pois se assim não for, a tarefa acabará por ser inatingível.
Paco, um miúdo de cinco anos, cheio de actividade e irrequieto, não teve sucesso na aprendizagem da leitura, por dificuldade em estar atento e sentado. No ano seguinte, os pais matricularam-no noutra escola onde, numa turma com poucos alunos, o professor adaptou os materiais à criança que, com procedimentos muito mais activos, aprendeu a ler sem problemas e evitou novo e previsível insucesso escolar.
- Graduar a dificuldade de forma a facilitar a consecução de sucessos intermédios mais acessíveis, e o completo domínio da tarefa.
A Ana, uma pequena deficiente mental de seis anos, ensinaram-lhe a vestir o pijama segundo a técnica da modelação, ou reprodução do modelo, que se baseia no graduar da dificuldade, de modo que, ao fim de duas semanas, já sabia despir-se apenas com uma ligeira ajuda, e estava muito orgulhosa do que tinha conseguido e convencida de que iria aprender mais ainda.
- Atribuir o sucesso a causas internas, por exemplo, dizendo à criança: “Vês como as coisas te saem bem quando te esforças!”.
- Atribuir o insucesso à falta de esforço, incentivando a criança a empenhar-se e a esforçar-se mais. Transmitir a ideia de que sempre se pode melhorar um resultado.
- Ter muito cuidado com os comentários depreciativos, que são sempre apercebidos e registados pela criança que os traduz como significando que ela não vale nada. Por exemplo: “Não há meio de fazeres isto bem”, ou então “tu não dás para fazer isto”. Dado que se deve estimular a criança, convém fazê-lo atribuindo, sempre, o insucesso ao pouco esforço ocasional, por exemplo: “Hoje não trabalhaste com empenho”.
- Procurar experiências de sucesso compensadoras noutras áreas diferentes, como por exemplo, em relações sociais, desenho, desporto ou ajuda nos trabalhos domésticos.
In O Stress na Infância

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Mediação de Conflitos


Escuta Activa
“Só entenderás alguém
quando caminhares com os seus sapatos”.
(Provérbio chinês e sioux)
Para que serve esta competência
A escuta activa é a competência mais poderosa, interessante e útil para mediar qualquer conflito.Serve para compreendermos as duas partes implicadas no conflito e criarmos empatia em relação a elas. É muito útil para que as partes em conflito se entendam e vão passando das posições para as necessidades.
Condições prévias
Antes de utilizar as técnicas da escuta activa é conveniente ter em conta alguns aspectos:
- Assumir como atitude pessoal o pôr-se no lugar da outra pessoa, para poder compreender o que ela está a dizer e a sentir.
- Mostrar compreensão e aceitação através dos seguintes comportamentos não verbais:
• Um tom de voz suave
• Expressão facial e gestos acolhedores.
• Estabelecendo contacto visual.
• Assumindo uma postura corporal receptiva.
- Não utilizar, na medida do possível, nenhuma das doze típicas.
Modo de usar
Em sentido estrito, pode dizer-se que alguém pratica escuta activa quando, face a uma mensagem recebida dum emissor, lhe diz o que entendeu daquilo que acabou de ouvir, realçando o sentimento existente por detrás dessa mensagem.
Em sentido mais amplo, podemos dizer que a escuta activa é o resultado das seguintes acções:
Mostrar interesse
O interesse pode mostrar-se de forma não verbal, por exemplo, abanando afirmativamente a cabeça, ou de forma verbal. Se se optar pela forma verbal, é importante utilizar palavras neutras que não revelem nem acordo nem desacordo relativamente ao que a outra pessoa está a dizer, por exemplo: “Podes dizer-me mais qualquer coisa acerca disso?”
Clarificar
Clarificar significa tornar mais clara uma mensagem. Serve para obter a informação necessária para compreender melhor o que a pessoa está a dizer, ou o problema. “E tu que fizeste nessa altura?”. “Há quanto tempo estais zangados?”. Para facilitar a acção é costume utilizar perguntas abertas que são as que procuram provocar no interlocutor um resposta alargada e não apenas um sim ou um não.
Parafrasear
Consiste em repetir, por palavras próprias, as principais ideias ou pensamentos expressos por quem fala. Serve para mostrar que se entendeu o que o outro disse, e permite verificar se o significado atribuído pelo emissor à mensagem é idêntico ao entendido pelo receptor. “Quer dizer, então, que para ti o problema é uma tolice”. “Então, aquilo que tu me estás a dizer é...”.
Fazer-se eco
É o que atrás denominámos escuta activa em sentido estrito. Consiste em dizeres por palavras tuas os sentimentos existentes por detrás do que o outro acabou de expressar. Ajuda quem fala a clarificar os seus sentimentos. “Ficas frustrado por te estarem sempre a acusar de seres o que mais falas nas aulas”. “Custa-te que ele te esteja a acusar de lhe teres tirado o lanche”.
Resumir
Consiste em juntar a informação que nos vai sendo transmitida, referente quer a sentimentos quer a factos. Oferece a quem fala uma boa oportunidade de corrigir ou acrescentar algo ao já dito. “Então, se bem entendi, A andou à luta com C, e tu ficaste ofendido por te considerarem o causador do conflito” ou “Falaste de A e de B, mas não entendo o que é que C tem a ver com tudo isto”.Quando um mediador escuta activamente as partes, está a compreendê-las, a ajudar a que se expressem melhor, e a facilitar a comunicação entre elas. Se, além disso, ainda estimularmos as partes a escutarem-se activamente uma à outra, estamos a dar-lhes mais recursos para poderem comunicar melhor, sem precisarem sempre da presença dum mediador.
Quando se pode utilizar
Pode e deve praticar-se a escuta activa ao longo de todo o processo de mediação, embora seja na fase número dois (Ora conta lá) que ela se pode usar de forma mais activa. Além disso, ao escutá-las, ajudamos as partes a aprender a escutar-se mutuamente.
Quando não convém utilizá-la
Este instrumento de trabalho não se pode utilizar quando há algo que interfere ou impede que centremos a nossa atenção no outro, por variados motivos: toca a campainha e tens de te ir embora, ou uma das partes em conflito diz, ou faz algo, que não podes aceitar de modo nenhum. Nessa altura, é melhor não tentar compreender o outro e suspender o processo, ou falar na primeira pessoa.
Dificuldades mais comuns
A principal dificuldade consiste em meter-se na pele do outro e compreender o conflito conforme ele é entendido por cada pessoa. E isto torna-se particularmente difícil para os que constroem muitas hipóteses sobre o que se está a passar e dizem aos outros aquilo que eles têm de fazer. A chave está em esquecermos um pouco a “nossa sabedoria”

sexta-feira, 1 de maio de 2009

DOZE TÍPICAS


Dá-se o nome de doze típicas aos doze tipos de respostas que a maior parte das pessoas utiliza quando pretende ajudar alguém a expor um problema que o aflige.

São as seguintes:

1. Explicação
Mandar, orientar
Dizer ao outro o que deve fazer.
“Tens de...”, “Deves...”

2. Ameaçar
Dizer ao outro o que poderá acontecer se não fizer o que lhe dizemos.
“Se não fizeres isto, então...” É melhor fazeres isto, caso contrário...”

3. Pregar um sermão
Aludir a uma norma externa para dizer o que o outro deve fazer.
“Um homem não chora”
“Deves ser responsável”

4. Dar lições
Recorrer à experiência para dizer o que é bom e mau para o outro.
“As crianças de agora são muito mimadas, no meu tempo isto não acontecia”

5. Aconselhar
Dizer ao outro o que é melhor para ele/ela
“Deixa de estudar” “Não deixes de estudar” “O melhor que tens a fazer é...”

6. Consolar, animar
Dizer ao outro que o que se passa com ele tem pouca importância
“Já vai passar”
“Não te preocupes...”

7. Aprovar
Dar razão ao outro
Estou de acordo contigo, o melhor é...”

8. Desaprovar
Não dar razão ao outro
“O que dizes é uma tolice”

9. Ofender
Desprezar o outro por causa do que diz ou faz
“Até pareces parvo”

10. Interpretar
Dizer ao outro o motivo oculto da sua atitude
“O que tu queres no fundo é chamar a atenção”

11. Interrogar
Conseguir informação do outro
“Quando?, Onde?, Porquê?”

12. Ironizar
Rir-se do outro
“Pois claro, deixa de estudar, vai-te embora de casa, deixa o teu namorado e vai pedir esmola pelas ruas”

As doze típicas têm uma característica comum: são um obstáculo à comunicação, uma vez que não ajudam a pessoa que fala a ser compreendida e, portanto, a contar o que ocorreu. Todas elas incluem um juízo negativo sobre o outro (eu sei o que deves fazer e tu não; o que se passa contigo tem pouca importância; estás-me a esconder alguma coisa...), ainda que, evidentemente, não seja essa a intenção de quem as utiliza. Além disso, em todas elas, quem pretende ajudar acaba por se transformar na medida dos problemas de quem lhe fala; é pois uma ajuda centrada em quem ajuda e não em quem pede ajuda.