terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Trabalho e Sofrimento dos Professores


Trabalho e Sofrimento, segundo Freud


Vamos analisar a perspectiva de Freud sobre o trabalho. Freud não escreveu textos especialmente dedicados ao trabalho, mas não deixou de reconhecer a centralidade do investimento da libido humana nesta área. Perguntado uma vez sobre o que seria central na vida do ser humano, não hesitou em, responder: “amar e trabalhar”.A título de ilustração, escolhemos dois conceitos de Freud que exemplificam o que acabamos de dizer.
A sublimação, estudada por Freud como um mecanismo de defesa, consiste no fato de actividades humanas que não possuem qualquer relação aparente com a sexualidade (e aqui se pode incluir a criação artística, a investigação científica e o próprio trabalho), terem as pulsões sexuais e agressivas como sua força motriz.
Trata-se de uma derivação ou desvio da libido para um alvo não sexual, ou que expressa objectivos socialmente valorizados.
Em “O Futuro de uma Ilusão” Freud (1927/1997) considera que todo indivíduo é virtualmente inimigo da civilização, embora acredite que esta é de interesse humano universal, por isso afirma que o homem não é espontaneamente amante do trabalho. Enuncia um conceito de civilização que abrange tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de sua condição animal e difere da vida dos animais.
Assim, a civilização inclui todo o conhecimento e capacidade que o homem adquiriu com o fim de controlar as forças da natureza e extrair a riqueza desta para a satisfação das próprias necessidades e inclui tudo que é necessário para ajustar as relações dos homens uns com os outros e, especialmente, a distribuição da riqueza disponível.
Em outra obra – “Mal-estar na Civilização” (1930/1997) Freud afirma que nós, homens civilizados, trocamos nossas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança. A vida, segundo o autor, proporciona ao homem muitos sofrimentos, decepções, tarefas impossíveis de serem realizadas. Aspectos sócio-culturais, como o trabalho, são renúncias pulsionais colectivas em prol da sociedade, constituem uma medida paliativa na função de evitar do sofrimento (desprazer), fazem parte da sujeição ao princípio da realidade.
O sofrimento ameaça o homem em três direcções: o próprio corpo, fadado à decadência; o mundo externo, que pode voltar-se contra ele com forças de destruição e; o relacionamento com os outros, colocado como talvez sendo a fonte do sofrimento mais penoso. A defesa imediata contra este sofrimento seria o isolamento, porém que o melhor caminho é o de tornarmo-nos membros da comunidade humana.
Assim sendo, a relação entre o trabalhador e a organização do trabalho ocorre não apenas no plano consciente, mas em uma dimensão imaginária. Trata-se, segundo Freud, de uma relação que envolve “dor”, no sentido da ferida narcísica que provoca. Consequentemente, a demonstração de excessivo zelo pelo trabalho, assim como a necessidade de referências de gratidão e elogios, por parte dos alunos, podem significar tentativas de minimizar as duras condições de trabalho do magistério.
Em obra bastante conhecida, em que estuda um caso clínico de paranóia – o Caso “Schreber” (1910/1981) - Freud fala de um tipo especial de transferência, que o ser humano desenvolve em relação às instituições com as quais tem algum vínculo. Isto faz com que se relacione com elas, de forma antropomorfizada, atribuindo-lhes sentimentos, qualidades humanas, quase vida própria.
O mesmo acontece com os professores, em relação à escola: falam dela como se fosse a “segunda casa”, “um verdadeiro lar”, e estabelecem com os companheiros de trabalho e com os alunos relações fraternas e “quase parentais”, naturalmente permeadas por ambivalências de amor e ódio e por outros sentimentos e fantasias, presentes no relacionamento familiar. Trata-se de uma “faca de dois gumes”: da mesma forma que tais relações podem amenizar as agruras das condições de trabalho, geradoras do mal-estar docente, podem agravá-lo, com uma maximização de sentimentos de dor e de culpa, por exemplo.
Freud apresenta, em outro texto, o excesso de trabalho como uma das causas do enfraquecimento da intensidade da pulsão e do próprio Ego. Destaca, no mesmo texto, a tendência, nesse caso, a buscar satisfações substitutivas por outros meios. Esta tentativa, no entanto, não é bem sucedida. O autor critica a Psicanálise, por ter atribuído, a tais factores, pouca importância no desencadeamento da doença psíquica.
“Aqui temos uma justificativa da pretendida importância etiológica de factores não específicos, como o excesso de trabalho, os choques (emocionais) etc. A esses factores tem-se concedido aceitação geral, mas têm sido deixados em segundo plano pela Psicanálise. É impossível definir a saúde, excepto em termos metapsicológicos, quer dizer, pela referência às relações dinâmicas entre os factores do aparelho psíquico que têm sido reconhecidos – ou (se preferem) deduzidos ou conjecturados.” (Freud, 1937/1981a: 3346).

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Conflito-Cooperação

Conflito e Negociação de Pedro Cunha, publicado pela Asa
Uma óptima leitura nos tempos que correm.
Uma breve nota do prefácio à 1ª edição da autoria de Gonzalo Serrano - catedrático da Universidade de Santiago de Compostela:

"Entender pois o conflito como uma realidade presente e necessária não deve fazer-nos cair, na nossa opinião, em dois erros. O primeiro seria pensar que 'todo o conflito é necessário'; infelizmente, muitos conflitos são bastante inúteis na sua génese, delineamento e desenvolvimento, obedecem a razões espúrias e dificilmente se pode perspectivar neles a semente da mudança positiva ou construtiva para a realidade visada. O conflito em si, enquanto realidade social, é necessário, mas nem todos os conflitos têm que o ser.
Outro erro decorreria de uma concepção ingénua do conflito, assentando esta em esquecer que os conflitos produzem confronto, sofrimento e um sem fim de consequências negativas que estão na experiência comum dos indivíduos, das organizações e das nações.
Por tudo isto torna-se relevante fazer outras duas recomendações. Em primeiro lugar, prever o conflito, reconhecer as suas características de conflito latente e abordar aqueles problemas dos quais o conflito é um sintoma. Em segundo lugar, evitar a escalada do conflito que, no fundo, torna muito difícil a resolução do mesmo. "